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Por Flávio G. Souza

É válido um cristão genuinamente salvo em Jesus ter uma arma? Em nossa sociedade este tema é um tabu que precisa ser quebrado, pois muitos dos que se dizem cristãos não procuram conhecer os fundamentos da fé cristã. Para que venhamos entender este assunto e chegarmos a um consenso, precisamos ser guiados pela Palavra de Deus, a nossa regra de fé e prática.

A grande questão hoje é, o que Jesus nos ensinou sobre o assunto? Ou melhor, o que a Bíblia diz sobre o tema, isto é, conciliando o Novo Testamento com o Antigo, e assim vice-versa? Um dia eu fiz uma postagem sobre o assunto, e o que apareceu de gente insinuando que a página não era cristã! Além das acusações de texto fora de contexto, graças a Deus uma minoria, a maioria conseguiu interpretar o texto.

1. Conceituando a Ética cristã

Muitos que desconhecem o tema, o tratam com desprezo por desconhecerem o assunto. Mas antes de ir para explicação, precisamos conceituar o que significa a ética cristã. Para o cristão, a ética pode ser entendida como um conjunto de regras de conduta, aceitas pelos cristãos, tendo por fundamento a Palavra de Deus. Para os que creem em Jesus Cristo como Salvador e Senhor de suas vidas, o certo ou o errado devem ter, como base a Bíblia Sagrada, considerada como ‘regra de fé e prática’, conforme bem a definiram Lutero e outros reformadores. [1]

A Ética nos diz o que é moralmente certo e errado, já a ética cristã considera o que é certo e errado para o cristão, pois nossas crenças se baseiam nas Sagradas Escrituras. A Palavra de Deus sempre será nossa fonte de autoridade máxima.

1.1. É lícito um cristão, sendo um cidadão comum andar armado?

Existe muita controvérsia sobre este tema tão polêmico. Será realmente lícito um crente em Jesus andar armado? A resposta é sim, pois se formos ao extremo em dizer que é pecado um cristão ter uma arma, seja para a defesa pessoal, familiar e de terceiros, logo também ser um militar na perspectiva cristã seria errado.

Entenda, Deus não é um gênio da lâmpada, as guerras descritas no Antigo Testamento não foram com florzinha. A nação de Israel usou armas. Neemias que era um sacerdote, ao reconstruir o muro de Jerusalém portou uma espada (Cf. Nm 4.15-23). Davi cortou a cabeça de Golias com uma espada e não com uma flor.

Jesus nunca disse que era pecado ter uma arma para defesa própria, mas muitos insistem na passagem de Pedro sendo repreendido por cortar a orelha do servo do sumo sacerdote, como justificativa que todo cristão deve ser a favor do desarmamento, esse pensamento não tem fundamento nenhum nas Escrituras. Para entender, precisamos olhar o contexto de João 18. Jesus repreendeu Pedro pelo mal uso e não por ser pecado portar um armamento (Jo 18.10), até porque foi ele que se entregou. Jesus morreu porque assim Deus determinou:

"Ele foi entregue conforme o plano preestabelecido por Deus e seu conhecimento 
prévio daquilo que aconteceria. Com a ajuda de gentios que desconheciam 
a lei, vocês o pregaram na cruz e o mataram."


Atos 2.23 NVT


1.2. Jesus revela sua divindade em João 18

Jesus se entregou para morrer, leia João 18.4-8 quando os soldados vão querer capturá-lo. O detalhe mais interessante do texto é que, Jesus se adiantou e foi até eles e perguntou: “A quem vocês procuram?”, responderam eles: “A Jesus, o nazareno”, e Cristo se apresenta como o próprio Deus dizendo “Eu Sou” ειμι εγω, uma clara declaração de sua divindade.

Esta mesma expressão foi usada quando ele disse ser o bom pastor, que dá a sua vida pelas suas ovelhas (Jo 10.11). Foi assim da mesma maneira quando disse ser um com o Pai, não foi à toa que os judeus queriam matar Jesus (Jo 10.30). A expressão grega ειμι εγω (Eu Sou) é a mesma de Êx 3.14 "EU SOU O QUE SOU”היה, só que transliterado para o hebraico.

1.3. O perigo de politizar a morte de Cristo

Dizer que Cristo foi vítima de crime de ódio e coisas semelhantes, como alguns ditos “crentes” adoram fazer, é deturpar as Sagradas Escrituras na tentativa de sustentar uma ideologia que vai contra os princípios da fé cristã. Jesus, o Deus encarnado que veio para morrer em nosso lugar como o nosso substituto, ele quis se entregar para nos resgatar. Quando Pedro tentou impedir que o Mestre fosse capturado, Jesus disse: “Embainha a tua espada. Deixarei eu de beber o cálice que o Pai me deu?” (Jo 18.11). O cálice a qual Jesus se referia era justamente a seu sofrimento, isolamento e morte, afim de expiar os pecados de toda humanidade (1 Jo 2.2).

Jesus não foi vítima de perseguição do estado romano, até porque se ele quisesse o Pai enviaria mais de doze legiões de anjos para o socorrer (Uma legião de anjos na linguagem romana era aproximadamente 6 mil soldados). Nosso mestre não era uma vítima indefesa, antes permitiu que o prendessem (Cf. Jo 18.8; Mt 26.53), se lermos o restante da narrativa, ao ver Pedro cortar a orelha do servo do sumo-sacerdote, foi repreendido pelo mal uso da espada.

Pergunto eu a você que acha que se Jesus era contra as armas, por que ele mandaria que seus discípulos comprassem espadas? E com que propósito mandaria Pedro GUARDAR a sua espada ao invés de jogá-la fora? (Compare. Lc 22.36; Jo 18.11). Cristo quis se entregar e mesmo sabendo que seria traído e abandonado guardou os seus (Jo 18.8).

2. Um Cristão pode ir à guerra sob ordens de um governo?

Muito se pergunta sobre este assunto, seria correto um cristão ser militar? Seria correto um crente em Jesus ir à guerra sob ordens de um governo? Devemos considerar alguns pontos para que possamos entender o que a Bíblia diz sobre o assunto.

2.1. O governo humano foi instituído por Deus?

Sim, o governo humano foi instituído por Deus na terra, isso é visto claramente no Novo Testamento na carta do Apóstolo Paulo aos Romanos no capítulo 13.1:

“Obedeçam às autoridades, todos vocês. Pois nenhuma autoridade existe sem a permissão de Deus, e as que existem foram colocadas nos seus lugares por ele.”

Paulo repetiu essa recomendação a Timóteo, mandando orar e dar graças (1 Tm 2.1-4), da mesma forma com Tito, recomendando que venhamos respeitar ordens dos que governam e das autoridades (Tt 3.1). O Apóstolo Pedro também diz a mesma coisa, pois os que governam são escolhidos por Deus para castigar os que praticam o mal e elogiar os que fazem o bem (1 Pe 2.13-14).

2.2. Eu posso desobedecer a ordem do governo?

Se devemos obedecer às leis, até que ponto devo me submeter? É pecado estar me rebelando contra algo que eu não concordo? A resposta para este tipo de questionamento depende muito da situação. Devemos nos submeter as autoridades, desde que seu governo não contrarie a Lei de Deus, a Bíblia diz o seguinte sobre este assunto:

“Pedro e João, porém, responderam: “Os senhores acreditam que Deus quer que obedeçamos a vocês, e não a ele? Não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos!”.

Atos 4.19,20

Para facilitar o entendimento, se você fosse um pastor de uma igreja, e o governo local reconhecesse e tornasse lei o casamento gay. Um belo dia entra o “casal” no culto, e eles querem fazer parte da membresia de sua igreja, também aproveitar e utilizar o local para fazer uma festa de casamento, como você reagiria?

Como conhecedores da Palavra de Deus nossa fé não compactua com este assunto, e obviamente você rejeitaria e não permitiria que isso ocorresse, por ser pecado e gerar um escândalo. No final o “casal” se retira do gabinete pastoral e vai procurar a justiça, alegando que foram discriminados por causa de sua orientação sexual, lhe acusando de constrangimento ilegal. 

Como reagir diante dessas situações? Obedecer às autoridades e contrariar a Palavra de Deus? Para que venhamos responder biblicamente esses questionamentos, precisamos estudá-los a luz da ética cristã, baseados na Palavra de Deus.


2.3. Um cristão pode ser militar?

Muitos falam que um cristão não pode ser policial acreditando em um falso amor, mas isso é um mito que precisa ser desfeito. Um cristão, seja membro de qualquer força armada, ele é um representante da lei e da ordem, se por acaso atirar em um criminoso sob ordem do governo, isso não o faz um assassino, ele é um representante do governo em serviço, e está apenas está cumprindo a lei. Vemos isso na Bíblia, quando Jesus reconheceu a autoridade do estado para punir criminosos, até com a pena de morte:

“Disse-lhe, pois, Pilatos: Não me falas a mim? Não sabes tu que tenho poder para te crucificar e tenho poder para te soltar? Respondeu Jesus: Nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem.”

João 19.11

Veja, o Filho de Deus reconheceu a autoridade de Pilatos, Jesus sabia que ele podia crucificá-lo, pois essa autoridade foi-lhe outorgada por Deus. Em outra postagem vou tratar especificamente da questão para não estender muito nesse tema aqui.

3. É Pecado matar em autodefesa?

Se não há nada de errado em ser policial e professar a fé cristã, poder ter o porte de arma mesmo sendo um cidadão comum, como então conciliar isso com o texto de Mateus 5.39, onde Cristo ensina a dar a outra face?

Dar a outra face não quer dizer morrer igual uma ovelha muda, aceitando agressões físicas. Dar a outra face é suportar os insultos e não agressões físicas, portanto este tipo de argumento não se enquadra.

Este texto não deve ser interpretado de forma literal. Pois, entre os judeus, o ato de bater na face direita de alguém com as costas da mão era um insulto, provocação e não exatamente uma agressão física. Jesus exorta os seus discípulos a oferecerem a outra face em sinal de paz e disposição para um acordo. Isso no contexto, significa "não busque restituição na corte". Uma bofetada na face direita com as costas da mão significa um insulto, injúria e uma provocação, a observação de Jesus pode lembrar as palavras do Servo do Senhor, em Is 50.6.

Para muitos judeus desse tempo, estas declarações eram ofensivas. Um Messias que dava a outra bochecha, não podia ser o líder militar que esperavam para liderar uma revolta contra Roma. Os judeus esperavam um Messias Político, e como estavam sob a opressão romana, sonhavam com represálias contra seus inimigos. Mas Jesus sugeriu uma nova resposta à injustiça. Em lugar de demandar nossos direitos, devemos cedê-los. A declaração radical de Jesus diz que é mais importante repartir justiça e misericórdia que as demandar.

Isso também não quer dizer que iremos aceitar tudo, se não há um osso quebrado, devemos perdoar e esquecer. Se houver um dano físico ou moral por conta dessa agressão, devemos procurar nossos direitos, não por desejo de vingança, mas que a punição para este crime venha ser aplicada pelo responsável por executar as leis. Como cidadãos não podemos permitir que pessoas saiam fazendo qualquer coisa, ainda mais quando se trata de agressão física. Certamente alguns irão zombar quando você perdoar os que te ofendem, mas quem é sábio sabe que fazer isso é um ato de sabedoria e de certa forma revelará que somos verdadeiros seguidores de Cristo.[2]

Então se esgotar todas as alternativas, posso matar para me defender? No desespero poucos vão parar para pensar nisso e automaticamente se defender, pois como pode um pai de família ver sua família em perigo e se omitir de seu papel? A Bíblia diz o seguinte:

“Porém aquele que não cuida dos seus parentes, especialmente dos da sua própria família, negou a fé e é pior do que os que não creem.”

1 Timóteo 5.8

Se você prefere morrer alegando cumprir o mandamento de dar a outra face, você é pior que o descrente, dar a outra face não é se acovardar de seu papel de provedor e protetor do lar. 

No Antigo Testamento Deus deu o direito de legitima defesa, assim diz em Êxodo 22.2:

“Se o ladrão for achado roubando, e for ferido, e morrer, o que o feriu não será culpado do sangue.”

Muitos adoram argumentar que este versículo está no Antigo Testamento e coisas do tipo, mas se enganam, só conseguimos interpretar o Novo Testamento a luz do Antigo, e assim vice-versa. Vemos diversas vezes o Novo Testamento citar referencias do livro de Isaías (Cf. Lc 4.17-21).

Só no Novo Testamento vemos Jesus citando 24 citações do Antigo Testamento, caso você questione “Ah mas o sábado é citado no Antigo Testamento e não aparece no Novo”, sim, porque o sábado era um sombra do Messias, Ele é o nosso Eterno descanso, isso não desmerece princípios estabelecidos por Deus.

3.1. Como então interpretar o não matarás?

No Antigo Testamento, há sete termos hebraicos traduzidos por “matar” em português. A palavra rãsah, usada no sexto mandamento, é encontrada 47 vezes e indica o assassinato violento de um inimigo pessoal (Nm 35.27; 35.30; 2 Rs 6.32). “Não assassinarás” seria uma tradução viável. Este verbo nunca é usado para indicar um assassinato em defesa própria (Êx 22.2), uma morte acidental (Dt 19.5), a execução de assassinos (Gn 9.6) ou situações de guerra. O verbo rasah é usado para suicídio, mas não é aplicável ao homicídio não-premeditado (Êx 21.12-14) ou acidental (Nm 35.23).

Já o verbo qetal é o de uso menos corrente (SI 139.19; Jó 13.15; 24.14). Hemit, derivado de hãmas, indica violência deliberada, homicídio (Jr 22.3; Ez 22.26; Sf 3.4; Pv 8.36). A questão do homicídio aparece também em outros textos (Gn 49.5.; Jz 9.24; Jó 4.19; Is 59.6; Jr 13.22; 22.3; 51.35; Ez 7.23). O termo hãrag é empregado 162 vezes e significa “matar uma pessoa” (Nm 31.19; Jr 4.31).[3]

O ato de se defender, mesmo que isso custe a vida de uma pessoa não é de qualquer maneira um assassinato e muito menos matar por vingança, pois a Bíblia diz o seguinte: 

“Livrem-se de toda amargura, raiva, ira, das palavras ásperas e da calúnia, e de todo tipo de maldade. Em vez disso, sejam bondosos e tenham compaixão uns dos outros, perdoando-se como Deus os perdoou em Cristo.”

Efésios 4:31,32

O crente em Jesus não pode guardar ódio no seu coração, ao contrário ele deve sempre perdoar, da mesma forma que Deus nos perdoa quando erramos, assim devemos perdoar os que nos ofendem. O cristão deve valorizar a vida, pois ela é um dom de Deus (Jó 1.21; 33.4; SI 31.15). Deus sendo o dono, é quem dá e tira (Dt 30.15; SI 36.9; Lc 12.20). A vida é um bem que deve ser garantido a todos, por essa razão, o estado não pode legalizar o aborto por exemplo. Além de ser uma ofensa a Deus, é tirar o direito de outro ser humano viver, ainda que esteja no ventre. 

Mas quando se trata de matar para sobreviver, estamos em um dilema que trata do bem maior, e a preservação da vida é o que vale na ética cristã. Se o governo local autorizar seus cidadãos a terem uma arma para defesa pessoal e de terceiros, não há nada de errado biblicamente falando. Pois, se defendemos a vida de inocentes, não agimos por uma vingança egoísta, e sim demonstramos que a amamos a salvando de criminosos.

Conclusão

Portanto, considerando todos esses pontos e comparando os textos das Sagradas Escrituras, não há nada de errado em um cristão se defender mesmo que isso implique no uso de armas de fogo. A Palavra de Deus não condena e nem proíbe, pois a conservação da vida do nosso próximo vale mais, porque somos imagem e semelhança de Deus. Neste artigo, tratei do ponto de vista bíblico sobre o armamento, não confunda com o ponto de vista filosófico e sociológico, espero ter ajudado e acrescentado com este breve estudo.

Graça e paz.
Deus abençoe.

Referência Bibliográfica:
[1] RENOVATO, Elinaldo de Lima, Ética Cristã, 3ª Ed. CPAD, 2006, Pág. 8.
[2] GONÇALVES, Flávio Souza, Evangelho segundo as Escrituras, https://evangelhosegundoasescrituras.blogspot.com/2018/04/osermaodomonteavinganca.html
[3] ULRICH, Hans Reifler, A Ética dos Dez Mandamentos, um modelo de ética para os nossos dias. 1ª Ed, Vida Nova, 1992.  Pág. 112. 

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