Menu

ad text top

Devocional

Cute

My Place

Videos

Por Flávio G. Souza

1. Introdução

Para muitas pessoas a doutrina da batalha espiritual é um assunto que sem relevância a fé cristã, por acharem que o tema envolve heresias presentes no movimento neopentecostal. Mas ao contrário do que muitos pensam, tem fundamento bíblico, porém nem tudo o que se diz batalha espiritual tem apoio nas Sagradas Escrituras.

O conjunto de práticas neopentecostais que se intitulam por movimento de "batalha espiritual" ensinam heresias como maldição hereditária, espíritos territoriais, mapeamento espiritual e a ideia de expulsar demônios dos próprios crentes. Essas práticas são inovações provenientes de várias fontes: erros de interpretação de textos bíblicos, experiências pessoais e revelações de origem estranha. Trata-se de distorção doutrinária que está muito em voga na mídia evangélica e nos últimos anos vem recebendo aceitação de muitos líderes desavisados.[1]

A batalha espiritual é uma realidade na vida do cristão, pois a Bíblia atesta essa verdade ao dizer: "Sabemos que somos filhos de Deus e que o mundo inteiro está sob o controle do maligno" (1 Jo 5.19). Muitos hoje estão equivocados com o que representa a batalha espiritual para o crente em Jesus, e um desses enganos é justamente achar que devemos atacar as pessoas, porém nossa luta é contra principados e potestades e não contra o nosso semelhante (Cf. Ef 6.12). Olha que eu já participei de certas palestras envolvendo a "batalha espiritual" na antiga igreja que frequentava, onde ensinavam a combater as pessoas por simplesmente cismarem na existência de uma "herança espiritual maldita". Quando os adeptos desses enganos conseguem fazer esse proselitismo no meio cristão, levam as suas vitimas a "cultos" de cura interior e quebra de maldições, negando assim a eficácia do sangue de Jesus sobre a vida dos que nascem de novo (Jo 8.36).

2. Uma realidade que não pode ser ignorada

No Novo Testamento por exemplo, temos exemplos práticos na tentação de Jesus (Cf. Mt 4.1-11; Mc 1.12,13; Lc 4.1-13), e casos semelhantes dessa natureza aparecem com certa frequência nos evangelhos (Mt 12.22; 17.19, 21). O apóstolo Pedro teve de enfrentar Simão, o mágico em Samaria (At 8.9-24), e da mesma forma o apóstolo Paulo enfrentou várias vezes essas hostes malignas (At 13.8-11; 16.16-22; 19.11-19). Paulo fala sobre a existência de um mundo espiritual da maldade sob o domínio do príncipe das trevas (Ef 2.2; 6.10-12).[2]

A existência dos demônios são uma realidade e eles agem em pessoas, por isso a importância do cristão ter uma vida de jejum e oração diária. Já pude presenciar pessoas negando este fato registrado na Bíblia, a pessoa argumentava que casos de possessão demoníaca não passavam de problemas 'neurológicos' por meio de um falso silogismo. Claro que não podemos espiritualizar tudo, nem tudo é demônio, por isso a importância de pedir discernimento espiritual a Deus (1 Co 2.15; 12.10). Outros já acham que o diabo é apenas uma lenda, um mito ou uma energia negativa. Subscrever essa posição é cair nas teias desse ardiloso e vetusto inimigo. O diabo é mais perigoso em sua astúcia do que em sua ferocidade. Faz parte do seu jogo esconder sua identidade. A negação do diabo é a expressão mais escandalosa de satanismo.[3]

3. O que não é batalha espiritual

Devido aos exageros de autodenominados movimentos de batalha espiritual, muitos são levados a incredulidade, já outros ao misticismo por atribuírem tudo ao diabo. São pessoas que falam muito do diabo e pouco de Deus, falam tanto de Satanás e suas estrategias como se ele fosse responsável por tudo o que acontece. Por exemplo, uma dor de cabeça, o pneu do carro que furou, um braço quebrado, tudo vira artimanha do inimigo. Aqueles que embarcam por esse caminho associam todas as suas falhas a Satanás, retirando assim sua responsabilidade, e se colocando como vítima, o arrependimento então não é necessário. Mas o homem tem sim sua responsabilidade, quando Adão desobedeceu no Éden, Deus não foi atrás da serpente primeiro, foi em Adão, era dele a responsabilidade. Falar que erramos por causa do diabo, porque ele "arquitetou" determinada situação, é querer isentar-se de responsabilidade, pois somos por natureza depravados e precisamos nos arrependermos de nossos pecados.

O que muitos estão chamando de "batalha espiritual", são modelos nocivos a fé cristã, pois usam de textos isolados para fundamentar uma doutrina inexistente na Palavra de Deus, como por exemplo maldição hereditária, mapeamento espiritual, espirito territorial, essas heresias tem uma estrutura muito mais próxima do ocultismo do que na Palavra de Deus.

3.1. Mapeamento Espiritual

O movimento de batalha espiritual traz em seu conjunto de doutrina, o que chamam de espíritos territoriais. Seus expositores fundamentam essa crença em experiências humanas, nos relatos de missionários, e não na Palavra de Deus. Peter Wagner, no capítulo 3 do livro Espíritos Territoriais, demonstra isso. Em resumo, a doutrina consiste na crença de que Satanás designou seus correligionários para cada país, região ou cidade. O evangelho só pode prosperar nesses lugares quando alguém, cheio do Espírito Santo, expulsar esse espírito maligno. Em decorrência, surgiu a necessidade de uma geografia espiritual, daí o mapeamento espiritual. Os espíritos territoriais são identificados por nomes que eles mesmos teriam revelado com suas respectivas regiões que supostamente comandam.[4]

Utilizam-se erroneamente de passagens isoladas da Bíblia para fundamentar uma doutrina que foi criada em experiencia humanas, são elas Dn 10.13, Mc 5.10, e precisamos ter cautela, pois o que estabelece uma doutrina é a Palavra de Deus. Os expositores destas heresias com uma exegese desonesta de Dn 10.13, afirmam a existência de espíritos territoriais, mas esquecem de um detalhe essencial, o escritor relata uma guerra angelical, não há indício de uma presença humana na passagem, pois Daniel teve uma visão.

É verdade, ‘o príncipe do reino da Pérsia’ impediu, por três semanas, que o anjo (presumivelmente, Gabriel) viesse até Daniel (Dn 10.12,13). No entanto, Daniel estava aspirando à visão profética, e jamais pensou em ‘amarrar’ o ‘espírito territorial’ da Pérsia. Nem o anjo o instruiu para empreender tal ‘batalha’. Na verdade, em lugar algum da Bíblia sugere-se a ideia de que certos demônios tenham autoridade específica sobre certas cidades ou territórios e que devam ser ‘amarrados’. [...] Paulo nunca tentou ‘amarrar espíritos territoriais’ para ensinar o evangelho ao mundo de sua época, portanto, por que deveríamos fazê-lo?[5]

Também costumam usar Mc 5.10, na tentativa de afirmar a existência de espíritos territoriais, mas se lermos o contexto essa interpretação não se sustenta. Se lermos o texto isolado, faz parecer que eles estão certos em sua interpretação, mas Lucas ao relatar o mesmo acontecimento diz que eles rogavam para que não fossem enviados para o abismo (Cf. Lc 8.32). Não há contradição entre os Lucas e Marcos, mas sim um complemento. O abismo que representa o lugar dos mortos, significa "sem fundos" (Grego: αβυσσος abussos). Eles pediram para ficarem na região e não no abismo que com frequência se refere a prisão de espíritos malignos ou anjos caídos situada no mundo inferior (Cf.  Ap 9.1-2, 11; 11.7; 17.8; 20.1,3; cp. 2 Pe 2.4). Essa doutrina não tem amparo nas Sagradas Escrituras, portanto devemos tomar cuidado e rejeitar este ensino em nossas congregações.

3.2. Maldição Hereditária 

Já abordei este tema aqui em outros artigos, mas em resumo, baseados neste engano, ensinam que se alguém tem problemas com adultério, pornografia, alcoolismo, depressão, pensamento suicida, é porque alguém de sua família teve este problema, não importa se é avó, bisavós, tataravós. Segundo essa doutrina, a pessoa afetada pela maldição hereditária deve, em primeiro lugar, descobrir em que geração seus ancestrais deram lugar ao diabo. Uma vez descoberta tal geração, pede-se perdão por ela, e, dessa forma, a maldição de família será desfeita. Uma espécie de perdão por procuração, muito parecido com o batismo pelos mortos praticado pelos mórmons.[6]

Não vou detalhar muito o assunto por já ter publicado sobre o tema, caso tenha curiosidade: Maldição hereditária é um ensino genuinamente bíblico?
Deuteronômio 30.19 da base para maldição hereditária?

Na Bíblia essa doutrina não se sustenta, pois não existe um único versículo onde profetas ou os apóstolos quebram maldições na vida das pessoas. A Bíblia revela que nem sempre os filhos seguem os erros dos pais. O rei Amom "fez o que era mal aos olhos do SENHOR" (2 Cr 33.22); no entanto, o rei Josias, seu filho: "[...] fez o que era reto aos olhos do SENHOR e andou nos caminhos de Davi, seu pai, sem se desviar deles nem para a direita nem para a esquerda" (2 Cr 34.2).[7] Os defensores dessa doutrina manipulam as Escrituras usando três textos do Antigo Testamento (Êx 20.5; Dt 5.9; Is 8.19), em contrapartida temos diversos textos que contradizem a interpretação dada por eles (Dt 24.16; Ez 18.20; Jo 9.1-3). O evangelho é simples, e essas heresias só vem para provocar confusão, no cristianismo essa doutrina não tem espaço, pois negam a suficiência de Cristo ao afirmar que as maldições continuam mesmo após a conversão.

3.3. Crentes "Endemoninhados"

É muito comum nesses seminários de batalha espiritual argumentar-se que um cristão pode ficar possesso por demônios, mas será que isso é verdadeiramente ensinado nas Sagradas Escrituras? Não existe um texto na Bíblia que afirme a possibilidade de um cristão ficar possesso, e o que mais temos hoje são experiencias, e experiencia não estabelece doutrina. Eu por exemplo antes de entrar para o seminário acreditava nessas baboseiras, e um determinado pregador em um culto afirmou que o cristão pode ficar possesso através da relação fora do casamento. Claro que se relacionar sexualmente fora do casamento é pecado, mas devemos saber separar obras da carne com atuação de demônios, é essa distinção que muitos esquecem de fazer. Muitos se utilizam o caso de Saul e Judas para fundamentar este ensinamento de crentes endemoninhados, mas por usarem uma exegese ruim esquecem que Saul já estava desviado naquela época, e que Jesus chamou Judas de diabo (Cf. 1 Sm 15.23; Jo 6.70-71).

Na Bíblia não existe um texto que de base para cristãos possessos, o que encontramos são textos isolados ou experiencias pessoais. Na Palavra de Deus temos textos que refutam essa visão, Cristo ao falar que um espirito imundo é expulso de uma pessoa, ele procura outro lugar e quando volta encontra a casa vazia e em ordem, notem esse paralelo no texto. Em nenhum momento afirma que um espirito imundo habita onde o Espirito Santo habita (Mt 12.43-45). Mas embora Jesus expulse os demônios, essa geração impia está convidando os demônios para que voltem a habitar nela.[8]

O Senhor Jesus afirmou que todos os espíritos demoníacos deixam o corpo da pessoa que se converte ao seu evangelho (Lc 11.24). Tal corpo fica varrido e adornado, como obra do Espírito Santo (v. 25). A Bíblia, ensina ainda, que o corpo do cristão é templo do Espírito Santo (1 Co 6.19) e que o corpo, a alma e o espírito do cristão "pertencem a Deus" (v. 20). Temos promessas de Deus de que o maligno não nos toca: "o que de Deus é gerado conserva-se a sim mesmo, e o maligno não lhe toca" (1 Jo 5.18). O cristianismo baseia-se na Bíblia, e não em experiências humanas contrárias às Escrituras Sagradas.[9]

3.4. Se um cristão não fica possesso como explicar o caso de Saul e Judas Iscariotes?

Subtende-se de forma majoritária quando se comenta sobre um cristão possesso, tais pessoas não são cristãs genuínas, e se isso for verdade, como entender o caso de Saul e Judas, o traidor? Para compreender este tema, muitos passam a duvidar da segurança eterna do crente em Jesus, mas por ser um tema complexo, só exige-se tempo para uma explicação onde é sanada todas essas dúvidas.
  • Saul perdeu a salvação?
Este assunto é bem explicado pelo pastor Gabriel de Oliveira porto, diz ele no seu livro: Dentre aqueles que defendem a ideia de que um salvo possa perder a salvação, muitos citam a vida do rei Saul, afirmando que ele era salvo, mas que, por ter se desviado dos caminhos de Deus, perdeu a salvação. Antes de tudo, aqueles que fazem tal alegação, novamente estão negando a presciência divina. Pois, Deus sempre soube que Saul seria infiel, mesmo antes de tê-lo escolhido para reinar por algum tempo. É muito fácil provar que Saul nunca foi um verdadeiro rei de Israel aos olhos de Deus. Pois, Jacó, inspirado pelo Espírito Santo, séculos antes, já havia profetizado, que todos os reis de Israel viriam da tribo de Judá, mas Saul era da tribo de Benjamim.

"O cetro não se apartará de Judá, nem o bastão de comando de seus descendentes, até que venha aquele a quem ele pertence (siló), e a ele as nações obedecerão". (Gênesis 49.10)

"Havia um homem de Benjamim... chamado Quis... tinha um filho chamado Saul..." (1Samuel 9.1-2)

Sendo assim, afirmar que Deus considerou Saul como um verdadeiro rei, faria o próprio Deus entrar em contradição com sua palavra em Gênesis 49.10. O que é impossível, pois negaria a onisciência divina. No capítulo 8 do livro de 1Samuel, Deus nos deixa bem claro, que ainda não era a hora de Israel ter um rei. Porque Davi, o rei escolhido pelo Senhor ainda nem havia nascido, ou era, no máximo, um bebê.

"...disseram: Dá-nos um rei para que nos lidere...  E o SENHOR lhe respondeu: "Atenda a tudo o que o povo está lhe pedindo; não foi a você que rejeitaram; foi a mim que rejeitaram como rei". (1Samuel 8.6-7)

Deus também avisa que, se o povo insistisse em ter um rei antes do tempo, esse seria tão mal, que os Israelitas iriam clamar a Deus para serem libertos desse rei tirano, mas o Senhor, não os ouviria.

"Samuel transmitiu todas as palavras do SENHOR ao povo, que estava lhe pedindo um rei... vocês clamarão por causa do rei que vocês mesmos escolheram, e o SENHOR não os ouvirá. Todavia, o povo recusou-se a ouvir Samuel, e disse: "Não! Queremos ter um rei. Seremos como todas as outras Nações... E o SENHOR respondeu: Atenda-os e dê-lhes um rei". (1Samuel 8.10-21)

Uma análise honesta e atenta da história de Saul registrada em 1Samuel, deixa bem claro que Deus permitiu que Saul se tornasse rei, para, por meio dele, executar uma punição contra o povo de Israel.

Pois o povo estava rejeitando a Deus, como o verdadeiro rei de Israel, e estava querendo ter um rei igual aos reis humanos das nações ímpias. Por isso, Deus, deu um rei ímpio, exatamente como o povo desejava, para punir o povo por sua incredulidade. Porém, Saul nunca foi um rei digno aos olhos de Deus, pois desde o início, Deus já sabia que Saul sempre seria ímpio. Ele era exatamente do jeito que o povo queria, alto, forte, bonito, mas ímpio, mau e infiel.

"...o SENHOR me falou esta noite ...Embora pequeno aos seus próprios olhos, você não se tornou o líder das tribos de Israel? O SENHOR o ungiu como rei sobre Israel ..." (1Samuel 15.16-17)

Samuel, contudo, lhe disse: ...Você rejeitou a palavra do SENHOR, e o SENHOR o rejeitou como rei de Israel!" ...Saul agarrou-se à barra do manto dele, e o manto se rasgou. E Samuel lhe disse: "O SENHOR rasgou de você, hoje, o reino de Israel, e o entregou a alguém que é melhor que você.". (1Samuel 15.26-28).[10]
  • Porque o Espirito se retirou de Saul? (1 Sm 16.13)
O Espirito ter se retirado de Saul não implica de nenhuma maneira a perda da salvação. Para compreender isso necessitamos entender um dos aspectos do Antigo Testamento. No AT, o Espirito do Senhor vinha sobre um individuo ou sobre um grupo quando eram chamados a realizar uma tarefa ou nomeados para um cargo. O Espirito "veio sobre" os juízes Otoniel, Gideão e Jefté (Jz 3.10; 6.34; 11.29) e lhes deu poder para servir ao Senhor. Saul e Davi também receberam o Espírito de Deus quando foram ungidos para reinar (1 Sm 10.1, 9-10; 16.3). O Espirito se retirava quando a tarefa era completada ou quando o individuo era removido de seu cargo. Quando Samuel ungiu Davi para ser o próximo rei (1 Sm 16.13), o Espirito deixou Saul (16.14), que era desobediente e havia sido rejeitado por Deus como governante (13.7b-14; 15.10-29; cp. 28.15; Jz 16.20). Depois que Davi pecou com Bate-Seba, orou pedindo para ser poupado deste mesmo julgamento (Sl 51.11). 
No NT, o Espirito Santo é concedido a todos que creem em Cristo como salvador, e não apenas a indivíduos que desempenham papéis específicos (ver At 2.14-21; Ef 1.13-14; 1Co 12.1-11). No entanto, o Espirito exerce uma função semelhante na capacitação dos servos de Deus para a obra que o Senhor os chamou a realizar. A ocasião em que o Espirito deixou Saul no AT tem um paralelo no NT nas advertências para que não pequemos contra o Espirito e não o entristeçamos (ver Mc 3.28-29; Ef 4.30; Hb 6.1-8).[11]
  • O Pecado Imperdoável
O pecado contra o Espirito Santo é descrito como o único sem perdão na Bíblia, e diferente do que muitos neopentecostais argumentam, não tem nada haver com você falar contra o que eles chamam de mover sobrenatural. Ainda é possível em nossos dias cometer esse pecado, mas ele é cometido de forma consciente, quando há uma critica por parte de algum tradicional a bizarrices atribuídas ao mover do Espirito , isso não tem nada haver com blasfêmia.

Então o que é blasfemar contra o Espirito Santo? Em Mateus 12.31-32 Jesus fala a respeito do assunto, todo aquele que blasfemar contra o Pai, terá perdão, e ainda que venha blasfemar contra o Filho, alcançará o perdão, mas aquele que blasfemar contra o Espirito nunca mais será perdoado. Jesus falou isso porque muitos mestres judeus ensinavam que os sofrimentos de cada um nesta vida podiam compensar seus pecados, mas no mundo vindouro (alguns mestres declaravam, de forma semelhante, que o arrependimento do rei Manassés lhe permitiu ser perdoado neste mundo, mas não no mundo por vir). De acordo com a Lei do Antigo Testamento, não se podia fazer expiação pelos pecados de "obstinação", cometidos "de mão erguida" - a rebelião deliberada contra Deus. A blasfêmia era castigada com pena de morte (Lv 24.10-23). Jesus, portanto, considera a blasfêmia contra o Espirito a rejeição contínua de sua identidade (Mt 12.18), mesmo quando confirmada pelas obras do Espirito (12.28) - o pior dos pecados.[12]

Blasfemar contra o Espirito Santo não tem nada haver com o que muitos misticos dizem, pois só pode-se cometer este pecado de forma consciente, no Antigo Testamento a blasfêmia envolvia a difamação do nome de Deus, ao invés de honra-lo, ou seja, insulto grave á honra de Deus (Nm 15.30). Portanto conseguimos compreender o porque o Espirito Santo se apartou de Saul, não foi porque ele perdeu a salvação, mas sim, porque o reinado dele tinha chegado ao fim.
  • O que é entristecer o Espirito? (Ef 4.30)
Entristecer o Espirito refere-e a uma transgressão séria. Em Isaías 63.10 (uma das duas passagens do Antigo Testamento que usam o termo "Espirito Santo"), a palavra se refere a rebelião de Israel no deserto, que levou o povo a ser rejeitado por Deus. Semelhantemente, a rebelião de Israel contra  Espirito que levou Moisés a "pecar com os lábios", de acordo com Salmos 106.33 (Cf. Nm 20.10; Dt 3.26). Quanto ao "selo" como sinal que atestava que a mercadoria ou o documento não haviam sido alterados.[13] 

O Espirito Santo é a garantia de que pertencemos a Deus, por isso devemos ter plena convicção e certeza de nossa salvação (Ef 1.13-14; Rm 8.16-17; 2 Co 1.22; 1 Jo 4.13), o contexto de Ef 4.30 também não diz nada sobre perda de salvação, pois Paulo fala da necessidade do cristão não falar palavras torpes. Ou seja, palavras que não tragam edificação para o corpo de Cristo, por isso a repreensão para não entristecermos a terceira pessoa da trindade, já aquele que vive no pecado nunca pertenceu a Deus (1 Jo 3.8-10).
  • Deus enviou um espirito mau para assombrar e atormentar Saul?
Na Antiga Aliança o Espirito era concedido aos reis quando eram chamados para realizar uma tarefa ou ocupar um cargo de liderança, quando esse tempo acabava o Espirito se retirava do indivíduo, este foi o caso de Saul após Davi ser consagrado pelo profeta Samuel (Cf. 1 Sm 16.13-14). No momento que o Espirito se retirou de Saul, Deus enviou um espirito maligno para o atormentar (v. 14), hoje existe várias controvérsias se ele estaria possesso ou não, mas pelo texto se tratar de uma expressão idiomática, não quer dizer que Deus o atormentou, mas que entregou Saul a seus próprios desejos (Cp. 1 Sm 16.14 NVI, NVT, ARC), como acontece com todos os que rejeitam o conhecimento de Deus (Rm 1.28.29).

Quando a Bíblia fala de um espirito mau atuando em pessoas, faz referencia a possessão, assim como diversas passagens na Bíblia atestam (Cp. 1 Sm 16.14 com: Mt 12.45; Mc 1.26; 5.7-9,7; 9.17; 16.9; Lc 10.19; At 8.7; 19.13; Ef 6.12; 1 Tm 4.1; Tg 2.19; Ap 16.14), com Deus o mal não habita (Sl 5.4; 89.14). E assim acontece com todos os que acham a vida cristã como uma brincadeira de circo, Saul até começou bem, era humilde e tinha domínio próprio (Cf. 1 Sm 10.22, 27; 11.13), mas sua obstinação e desobediência (15.11-23; 18.8; 19.1), além de levar ele a perder o reinado, fez com que tivesse ciúmes e ódio de Davi, levando-o a superstição, algo proibido e no final ao suicídio (28.7; 31.4).

Para entender os textos bíblicos, é preciso reafirmar que a fé bíblica do Antigo Testamento, monoteísta e ética em sua essência, nunca admitiu a ideia de que há seres maus comparáveis a Deus. Não existe um dualismo. Toda experiência humana deve ser explicada em Deus e a partir dele. A visão monista do mundo e da divindade de Israel fazia com que até mesmo toda experiência negativa também fosse atribuída a Deus. Por isso até os chamados espíritos maus são enviados por Deus e estão sob o seu domínio, como é o caso de Satanás no livro de Jó (Jó 1.6). Isso chegou a permitir um certo henoteísmo, pois Deus é considerado em alguns textos como o deus dos deuses (Sl 95.4), isto é, acima dos deuses que só existem sociologicamente. Os deuses das nações nada são, e o Deus verdadeiro está acima de todos eles. Por isso há também uma ideia da vitória divina sobre as figuras mitológicas e suas nações. Este é o caso de Raabe, do Leviatã e da Serpente. Na verdade não há um espaço para qualquer divindade ou ser mitológico que se apresente como o opositor de Deus. Isso significa que todos os "seres maus" estão subordinados a Deus, e de certa forma, acabando sendo também "seus servos", pois não passam de criaturas que só agem até o limite que Deus lhes permite atuar.[14]
  • Judas era salvo e perdeu a salvação?
Judas Iscariotes é o indivíduo infame que traiu Jesus ao entregá-los ás autoridades (Mc 3.19; Mt 10.4; Lc 6.16). Não se sabe ao certo o significado do nome "Iscariotes" (Jo 6.71; 13.26); talvez se refira a uma aldeia chamada Queriote. Entre os Apóstolos, Judas Iscariotes se mostrou ganancioso: cuidava da bolsa de dinheiro e roubava das ofertas nela depositadas (Jo 12.6). Posteriormente, o dinheiro que os principais sacerdotes lhe ofereceram como suborno o convenceu a trair Jesus (14.10-11; Mt 26.14-16; Lc 22.3-6).

Jesus chamou Judas de "diabo" (Jo 6.70) e predisse sua traição (14.18-21). O diabo colocou na mente de Judas a ideia de traição, e Satanás "entrou" nele quando a trama se concretizou (Lc 22.3; Jo 13.2, 27). Judas levou um grupo de soldados e oficiais ao jardim do Getsêmani no meio da noite. Ali encontrou Jesus e o entregou com um sinal que havia combinado de antemão: um beijo de saudação (14.43-52). Mais tarde, aparentemente tomado de remorso por haver traído um homem inocente, Judas se enforcou (Mt 27.3-10; At 1.18-19).

Fica evidente que Jesus entendeu a deslealdade de Judas como parte do plano de Deus para a redenção, pois tal traição provocou a morte do Messias como sacrifício supremo pelo pecado (Mc 14.21; Mt 26.24; Lc 22.22; cp: Mt 26.54). Embora Judas tenha colaborado para o plano de Deus, sem dúvida seu fim, trágico foi merecido (At 1.25). Teria sido melhor para Judas se ele não houvesse nascido (Mc 14.21; Mt 26.24; cp. Lc 22.22; Jo 17.12). Seu destino é uma advertência séria para aqueles que parecem cristãos, mas fato nunca assumiram um compromisso pessoal com Jesus (cp. Hb 6.4-6).[15]

Judas nunca foi convertido, pois nenhuma pessoa que verdadeiramente é discípulo de Jesus, vai permanecer na vida de pecados, ele só tinha aparência e foi o personagem chave para a morte do Messias, tudo estava profetizado desde o Antigo Testamento, teria um traidor. Mas claro que a parte do enforcamento não era profecia, ele fez isso porque sentiu remorso ao invés do arrependimento, como foi no caso de Pedro. O arrependimento faz com que não tomemos mais determinadas atitudes, o remorso só nos aprisiona. Apesar de Judas ter andado com Jesus, ele nunca passou pelo novo nascimento, e uma das provas é justamente essa, ele era ladrão (João 12.6). Jesus também advertiu o Apóstolo Pedro que ele ainda não era convertido (Lc 22.32), e apesar dele falar "Senhor estou pronto a ir para a prisão, e até a morrer ao seu lado" (22.33 NVT), essa declaração foi prematura, mas após sua restauração mudou de atitude (Cf. At 4.3; 5.18; 12.1-9).

4. Uma realidade a ser enfrentada

Não podemos deixar que esses movimentos sectários disfarçados de batalha espiritual nos afete a ponto de acharmos que este assunto não tem importância, não podemos subestimar nosso inimigo, desconhecer suas táticas e ignorar seus ataques é cair nas teias do nosso adversário.

Muitas vezes, o povo de Deus sofre terrivelmente por não entender contra quem está lutando. Seria uma tragédia um soldado sair para a batalha de armas em punho e muita disposição para a luta mas sem saber contra quem deve lutar. É um grande perigo alguém detonar suas armas sem ter um alvo certo. Há muitos cristãos que estão entrando na batalha e ferindo os próprios irmãos. Estão atingindo com seus torpedos os próprios aliados, em vez de bombardear o arraial do inimigo.[16]

E para que venhamos vencer essa realidade presente na vida de todos os cristãos precisamos conhecer a natureza da batalha espiritual, pois foi assim com algumas pessoas do Antigo Testamento (Cf. Gn 32.22-32; Dn 10.10-21). Por isso, precisamos nos submetermos a Deus através da oração e no cumprimento da vontade de Sua vontade, não se dirigindo diretamente aos poderes hostis nas regiões celestiais (Cf. Dn 10.12-13, 21).

4.1. Vencer o diabo

O diabo não apenas dificulta o trabalho do povo de Deu (1 Ts 2.18; Ap 2.10); ele "anda como um leão rugindo à sua volta, à procura de alguém para devorar (ver 1 Pe 5.8). Todo o mundo descrente está sujeito ao poder do pecado e do diabo (Ef 2.2; 1 Jo 5.19) como o 'deus deste mundo', o diabo consegue cegar a mente dos incrédulos (ver 2 Co 4.4; cp Mt 13.19). embora Satanás se oponha a Deus e procure destruir seu povo (Ap 12.12, 17), Jesus veio para acabar com a obra do maligno (1 Jo 3.8). Deus transforma bem e mal que o diabo pretendia fazer, por exemplo, quando cristãos são expulsos da comunidade cristã, ficam expostos ao poder destrutivo do diabo para que possam se arrepender e ser salvos (ver 1 Co 5.5).

Os cristãos devem permanecer firmes e resistir ao diabo (Ef 4.2-7. Tg 4.7), pedir livramento a Deus (Mt 6.13) e fazer uso da armadura que Deus provê para que se defendam (Ef 6.10-20). Aqueles que se rendem à influencia de Satanás sofrem as consequências (ver At 5.3-5). Os cristãos que caminham com Cristo, porém, estão seguros, pois sabem que a cruz quebrou o poder do diabo (ver Rm 8.38-39; 1 Co 15.24; Cl 1.13; 2.10, 15, 1 Pe 3.22; Ap 12.7-9) e que o Senhor os protege (ver 1 Jo 5.18). Também sabem que o Espirito Santo dentro deles é mais poderoso que o diabo (1 Jo 4.4). Pela palavra de Deus podem vencer o maligno (ver 1 Jo 2.14; cp: Ap 12.11).

Embora os cristãos devam ser cautelosos quanto ao diabo e proteger-se de seu poder, não precisam viver com medo. O poder do diabo não tem como superar o poder de Deus. No NT, a vida cristã não gira em torno da guerra espiritual, mas de alegre obediência ao Espirito.[17]

5. Conclusão

A Palavra de Deus deve ser a base para todas as doutrinas, mas infelizmente muitos deixaram se influenciar pelo modismo e caíram no engano das heresias que se formaram em experiencia sem o mínimo de respaldo nas Sagradas Escrituras, porque acreditaram na desculpa furada de "ah, mas a Bíblia não proíbe, então não tem problema". Esse falso silogismo se utiliza de uma mentira para justificar todo tipo de loucura, por isso é de extrema importância seguirmos o que a Bíblia ordena, onde ela se calar, não inventarmos ideias.

Muitos que não entendem a importância de fazermos só o que a Bíblia ordena ficam falando que é fanatismo, que não tem nada haver e todo tipo de desculpa esfarrapada, mas devemos zelar pelos basilares da fé cristã, se ficarmos neste engano achando que Deus vai aceitar algo fora do que Ele ordenou estamos perdendo tempo. Como bem disse o pastor Augustus Nicodemus em um de seus vídeos: "Deus não aceita ser adorado, a não ser da forma que Ele revelou", e isso é uma verdade incontestável, como exemplo prático disso temos Nadabe e Abiú ao oferecerem fogo estranho pra Deus. Portanto devemos prezar a ortopraxia.

Pense nisso.

Graça e paz
Deus abençoe

Referencia Bibliográfica:
[1] Batalha Espiritual, O Povo de Deus e a guerra contra as potestades do mal. Esequias Soares e Daniele Soares, CPAD, 2018, Pág. 14, 1ª Edição.
[2] Ibid. Pág. 14-15.
[3] LOPES, Hernandes Dias. Efésios, a noiva gloriosa de Cristo, Pág. 178, 1ª Edição 2010
[4] Batalha Espiritual, O Povo de Deus e a guerra contra as potestades do mal. Esequias Soares e Daniele Soares, CPAD, 2018, Pág. 22, 1ª Edição.
[5] HUNT, Dave. Em Defesa da Fé Cristã: Respostas a perguntas difíceis. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, pág..223-24.
[6] Batalha Espiritual, O Povo de Deus e a guerra contra as potestades do mal. Esequias Soares e Daniele Soares, CPAD, 2018, Pág. 16, 1ª Edição.
[7] Ibid.
[8] KENNER, Craig S., Comentário Histórico-Cultural da Bíblia, Novo Testamento, Vida Nova, Pág. 84, 1ª Edição 2017.
[9] Batalha Espiritual, O Povo de Deus e a guerra contra as potestades do mal. Esequias Soares e Daniele Soares, CPAD, 2018, Pág. 16, 1ª Edição.
[10] "Homem, Pecado e Salvação", Gabriel de Oliveira Porto. Pág. 310 a 312, GOP Publicações.
[11] Bíblia de Estudo NVT, Mundo Cristão, Pág. 476, 1ª Edição, Agosto 2018.
[12] KENNER, Craig S., Comentário Histórico-Cultural da Bíblia, Novo Testamento, Vida Nova, Pág. 82, 1ª Edição 2017.
[13] Ibid. Pág. 658.
[14] SAYÃO, Luiz. Como Deus pode enviar um espirito mau? (1Sm 16.14-23), http://www.prazerdapalavra.com.br/colunistas/luiz-sayao/3332-como-deus-pode-enviar-um-espirito-mau-1sm-1614-23-luiz-sayao.
[15] Bíblia de Estudo NVT, Mundo Cristão, Pág. 1630, 1ª Edição, Agosto 2018.
[16] LOPES, Hernandes Dias. Efésios, a noiva gloriosa de Cristo, Pág. 178, 1ª Edição 2010
[17] Bíblia de Estudo NVT, Mundo Cristão, Pág. 1938, 1ª Edição, Agosto 2018.

Abreviações:
ARC: Almeida Revista Corrigida
NVT: Nova versão Transformadora
NVI: Nova versão Internacional
Cp. Comparar
Cf: Conferir
-