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Por Flávio G. Souza

Muitos têm grande dificuldade para compreender a doutrina da Trindade, mas será que este ensino condiz com as Sagradas Escrituras? Os críticos afirmam que foi uma invenção da igreja católica, e não se encontra nas Escrituras, afirmando que crer em trindade é politeísmo.

Onde encontramos a Trindade na Bíblia?

Em 1 Co 12.4-6, vemos Paulo tratando sobre Deus se revelar de diversas maneiras, aqui temos uma referência indireta a Trindade, pois não há conflitos de interesses entre as diversas manifestações do Deus uno e trino.

Outro texto em referência é 2 Co 13.13, onde vemos uma referência da benção apostólica, ou mais conhecido como a benção trinitariana, embora a palavra Trindade não venha aparecer na Bíblia vemos o conceito claramente exposto.

Para compreendermos, precisamos entender os três pontos fundamentais da fé cristã, são eles:
1. A graça do Senhor Jesus Cristo 13.13, ou seja, a graça foi revelada por meio do Senhor Jesus através de sua encarnação, morte e ressurreição. Jesus sendo Deus (Fp 2.6-8), se fez homem, foi como um de nós, mesmo sendo Rei dos reis se portou como servo, sendo rico se fez pobre, sendo bendito assumiu nosso lugar na cruz e nos deu a vida de forma gratuita, mesmo sem merecermos.

Só amamos a Deus porque Ele nos amou primeiro (1 Jo 4.19), se doando como sacrifício perfeito, aplacou a ira de Deus levando sobre si nossos pecados. A graça de Deus é totalmente imerecida, não vem de nossos méritos, vem dEle, pois nossa justiça é como trapo de imundícia (Is 64.6).

2. O amor de Deus, Deus nos amou, mesmo a humanidade sendo ela uma raça de pecadores, Ele ainda assim manifesta a Sua graça salvadora de forma imerecida, não há nada em nós que faça Deus nos amar mais ou amar menos.

3. Comunhão do Espírito Santo, Só temos comunhão plena com Deus quando conhecemos a Sua Graça e a experimentamos mediante o auxílio do Espírito, pois é Ele quem nos ajuda em nossas fraquezas. Somente através dEle somos convencidos do pecado (Jo 16.8) e é por causa dEle que nossa santificação é possível. [1]

O texto de 2 Co 13.13, tem um paralelismo com a benção sacerdotal em Nm 6.24-26. Essa benção não é tão comum nas epístolas paulinas. Isso não tem a intenção de provar a trindade, mas se trata de um pronunciamento habitual do ministro ao despedir os fiéis. Essa prática já existia na era apostólica, o que não foi algo inventado na história.

A Bíblia é clara em dizer que só existe um único Deus (Dt 6.4), e Jesus vindo do Pai o revelou a nós (Jo 1.18). Jesus possuindo a mesma essência ou natureza divina é um com Deus (Jo 10.30), o Pai é maior que Jesus (Jo 14.28), portanto não é a mesma pessoa do Pai, como crer-se no modalismo. Para entendermos o porquê o Pai é maior que Jesus, precisamos analisar toda a Escritura, pois não se faz doutrina em cima de um texto sem considerar o restante.

Por que Jesus disse que o Pai é maior do ele?

Quando Jesus falou que o Pai era maior do que ele, estava falando como homem (Fp 2.6), porque estava subordinado ao Pai, dirigido pelo Espirito Santo, como uma condição para que pudesse cumprir a sua missão de morrer pelo mundo. Paulo descreve que ele esvaziou-se a si mesmo para viver como servo (Fp 4.7).

Jesus na terra a todo o momento viveu como homem se submetendo ao Pai. Como Deus, era igual ao Pai (Jo 14.9-11); mas como homem era menor e viveu como servo (Fp 2.8; Jo 1.14). Se a expressão "O Pai é maior do que eu" fosse um ensino bíblico que viesse a negar a Deidade de Cristo, também precisamos aceitar que Jesus é inferior aos anjos (Hb 2.9), portanto não afeta a divindade de Jesus. [2]

A Bíblia revela com clareza que Jesus é Deus (Jo 1.1; Cl 2.9), também afirma que o Espírito Santo é Deus (1 Co 3.16; At 5.3). O Espírito Santo é considerado uma pessoa, até porque não é necessário ter um corpo físico, porém ter as seguintes características, intelecto, vontade e sentimentos. O episódio de Ananias e Safira por exemplo, eles mentiram para o Espírito Santo e não a uma força ativa. Analisando outros textos, vemos que o Espirito Santo é uma pessoa, pois Ele também se entristece (Ef 4.30), nos consola (Jo 16.7), pensa (Rm 8.17), deseja (1 Co 12.11), ama (Rm 15.30), se alegra (Gl 5.22-23) e nos encoraja (At 9.31).


Atos 8.16 contradiz a Trindade?

Encontramos no livro de Atos dos Apóstolos um batismo diferente de Mateus 28.19, em Atos 8.16, parece contrariar a Santíssima Trindade nas Escrituras. Vemos isto também nos cap. 10.48 e 19.5. Mas lendo os textos atentamente, não se trata de uma fórmula batismal, pois não são uniformes, antes, são variadas suas expressões. A declaração que está em foco é “seja batizado em nome de Jesus Cristo”, o texto está se referindo à ideia “pela autoridade de Jesus”, como encontramos na passagem de Mateus 3.16.

Jesus mandou fazer discípulos de todos os povos, batizando em nome do Pai, Filho e do Espírito Santo. (Mt 28.19). O ensino da trindade foi ratificado pelos pais da igreja primitiva desde os tempos dos cristãos mais remotos, uma prova disso foi o concílio de Niceia. O concílio de Niceia (325 d.C) apenas comprovou algo que Tertuliano já havia formulado cem anos antes, também temos o concílio de Constantinopla (381 d.C) ratificando este ensino.

A Trindade no Tretagrama 

Vemos o Tetragrama (as quatro consoantes do nome divino YHWH), sendo aplicado ao Pai sozinho (Sl 110.1), ao Filho (Is 40.3; Mt 3.3) e ao Espírito Santo (Ez 8.1,3), no entanto, aplica-se também à Trindade (Sl 83.18).

O conceito do Deus trino e uno somente é encontrado na tradição judaico cristã

O conceito do Deus trino não surgiu mediante especulações de homens, mas através da revelação outorgada passo a passo na Palavra de Deus. Vemos isto em todos os escritos apostólicos, a trindade é tomada como certa (Ef 1.1-14; 1 Pe 1.2). As pessoas da trindade têm vontades separadas, porém nunca são conflitantes (Lc 22.42; 1 Co 12.11). O Pai fala ao Filho, que vem empregar o pronome da segunda pessoa do singular (Cf. Hb 9.14; Jo 6.38).

No Antigo Testamento (AT)

A trindade ou o Deus trino e uno é encontrada no AT (Gn 1.26; 3.22; Is 6.8). Vemos Jesus apresentar o Pai e o Espírito Santo em um relacionamento (Ex: Eu, tu e ele), em Jo 16.7-16, e antes da ascensão ao céu, ele mandou batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. 

O termo trindade vem do grego trias, e do latim trinitatem Grupo de três pessoas. [3] Apesar de não ter essa palavra na Bíblia, isso não é motivo para dizer que ela não existe. O primeiro a usar este termo foi Teófilo e depois por Tertuliano em sua forma latina.

Monarquistas Dinâmicos

Trata-se de um movimento que surgiu após a metade do segundo século entre o monoteísmo cristão. Eles ensinavam que Jesus recebeu a dynamis, "poder", em grego, por causa do batismo de Jesus no rio Jordão, e temos outros que afirmam que Jesus se tornou divino após a sua ressurreição. Porém todas essas ideias negam a deidade absoluta de Jesus e contraria a crença desde a época apostólica, que considera Jesus como "o verdadeiro Deus e a vida eterna".

Monarquistas modalistas (Unicismo)

São assim conhecidos por acreditarem que Deus se manifestou em três modos diferentes, uma hora como Pai na criação, como Filho no seu nascimento na ascensão de Jesus aos céus, e assim com o Espírito Santo. Para eles, Pai, Filho e Espírito Santo não são três pessoas, mas três faces.

Tertuliano (155-224), advogado romano intelectual estoica, ao se converter ao cristianismo veio tornar-se conhecido como o "Pai do cristianismo latino". Ele refutou os monarquistas modalistas, pois este grupo não fazia a distinção das pessoas da divindade, seus principais representantes foram Noeto, Práxeas e Sabélio.

O modalismo é popularmente como unicismo que nega a trindade. O principal propagador dessa doutrina foi o Bispo Sabélio, por causa disso este ensino é conhecido por Sabelianismo.

Arianismo

O arianismo veio de Ario (256-336), fundado em Alexandria, no Egito, no ano de 318. A sua doutrina contrariava a crença ortodoxa desde o período apostólico.[4] O grande problema de Ario era que ele ensinava que Cristo não era da mesma substancia do Pai, sendo criatura, mas Jesus é o criador e nEle todas as coisas foram criadas (Cl 1.16; Jo 1.3). O verbo (Jo 1.1; Is 9.6), é eterno porque Ele sempre existiu.

Definição de Tertuliano

A formulação da palavra trindade veio de Tertuliano com a seguinte declaração, “Todos são um, por unidade de substância, embora ainda esteja oculto o mistério da dispensação que distribui a unidade numa Trindade, colocando em sua ordem os três”. Pai, Filho e Espírito Santo; três, contudo, não em essência, mas em grau; não em substância, mas em forma; não em poder, mas em aparência; pois eles são de uma só substância e de uma só essência e de um poder só, já que é de um só Deus que esses graus e formas e aspectos são reconhecidos com o nome de Pai, Filho e Espírito Santo (Contra Práxeas, II). Um só Deus, portanto, a essência, a substância e o poder são um só; mas a diferença está no grau, na forma e na aparência que chamamos de “pessoas” (Mt 28.19). [5]

Formulação definitiva da Trindade

Só veio a ocorrer em Constantinopla em 381, baseados em Atanásio que combateu os arianistas. Com base nas obras dos pais capadócios, Basílio de cesárea, Gregório de Nissa e Gregório de Nazianzo. O credo Niceno-Constantinopolitano reafirma o credo de Niceia e define a divindade do Espírito Santo, assim ratificando a doutrina da trindade.

Este estudo foi extraído da revista Lições Bíblicas, 3º Trimestre de 2017. A Razão da nossa fé, Assim cremos assim vivemos, pág. 17-23 publicada pela CPAD. 

Bibliografia: 
[1] Lopes, Hernandes Dias, 2 Coríntios: o triunfo de um homem de Deus diante das dificuldades / Hernandes Dias Lopes. — São Paulo: Hagnos, 2008. Pág. 292-293.
[2] Bíblia Apologética com os apócrifos, 1ª edição, 2014, Pág. 1076.
[3] ANDRADE. Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. 8 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1999, p. 279).
[4] Ibid. p. 52).
[5] SOARES, Esequias, A razão da nossa Fé: assim cremos, assim vivemos / Esequias soares. - Rio de Janeiro: CPAD, 2017.

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