O que temos visto em nossas igrejas é lamentável. Infelizmente, encontramos cada vez mais lideranças corruptas assumindo posições de destaque, dando um péssimo exemplo. Como consequência, há mais cristãos nominais do que verdadeiramente convertidos.
Essa realidade é alimentada por mensagens que massageiam o ego, um evangelho sem cruz e a falta de estudo bíblico. Doutrinas essenciais que sustentam nossa fé foram relegadas a causas secundárias. Encheram a igreja de modismos e entretenimento, enquanto a Palavra, que deveria ser o centro, vem sendo deixada de lado. Em casos mais extremos, há quem afirme que a teologia é desnecessária — o que é um equívoco — pois ela é essencial para termos uma igreja saudável e bíblica.
Como cristãos salvos pela graça de Deus (Ef 2.8) e justificados gratuitamente pela fé (Rm 5.1), devemos ter consciência de que Ele nos escolheu para dar frutos. Essa é a evidência de alguém verdadeiramente salvo em Cristo. Muitos em nossas igrejas não têm certeza da salvação, devido a lideranças que ensinam doutrinas contrárias às Escrituras. Alguns líderes espalham medo, afirmando que se alguém sair de determinada igreja perderá sua “cobertura espiritual” ou algo do tipo. Quando conhecemos a verdade, somos capazes de identificar essas distorções, combater o falso evangelho e orientar os confundidos.
Devemos ter plena certeza da salvação e compreender que, uma vez concedida, ela não é revogada (Ef 4.30; Jd 1). O mesmo Deus que a concede é o que a completa (Fp 1.6). Uma dúvida comum é: “Conheço uma pessoa que dava fruto e hoje não dá mais. Quer dizer que ela perdeu a salvação?” A resposta é: não. Na verdade, essa pessoa nunca foi salva. Ele nos escolheu para darmos frutos, e frutos que permaneçam (Jo 15.16). Aqueles que entram na igreja, se denominam salvos, mas não permanecem, são cristãos nominais. Não houve verdadeira conversão, apenas aparência (1 Jo 2.19; 2 Jo 1.9).
É triste constatar que muitos ainda não têm certeza da salvação. Isso é fruto da falta de ensino doutrinário. Precisamos ensinar as doutrinas centrais da fé e, ao mesmo tempo, fazer uma autoavaliação sincera para termos convicção da nossa crença. Não podemos pregar uma coisa e viver outra. Se temos o fruto do Espírito, podemos ter a certeza da nossa salvação, pois isso confirma que fomos selados para o dia da redenção (Ef 4.30).
Assim como há os que duvidam da salvação, há também aqueles que acreditam estar salvos por fazerem “muito” na igreja — enquanto julgam os demais. A salvação, porém, não vem de nossas obras, mas de Deus, e é realizada por Ele (Ef 2.8-9). Alguns argumentam: “Mas a fé sem obras é morta.” Sim, é verdade. As boas obras são consequência, não a causa da salvação (Ef 2.10). Nossas obras, por si só, são como trapos imundos diante de Deus (Is 64.6). Se dependêssemos de nossa natureza caída para escolher a salvação, jamais a alcançaríamos, por causa da nossa depravação devido ao pecado (Rm 7.15).
O verdadeiro líder tem sua vida dirigida pelo Espírito Santo
Precisamos de líderes cheios do Espírito, como foi Josué — verdadeiro exemplo de um servo dirigido por Deus. Antes de falar, Josué dava exemplo, e suas palavras condiziam com sua conduta. Infelizmente, o que vemos hoje em muitas igrejas é vergonhoso.
Vejamos Josué 24.15:
"Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais: se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais; porém, eu e minha casa serviremos ao Senhor."
Para servir a Deus de verdade, é preciso conhecê-lO verdadeiramente. De nada adianta ter zelo sem entendimento (Rm 10.2). Quem conhece verdadeiramente a Deus não deve ser arrogante, achando seu conhecimento superior ao dos outros, mas sim humilde, disposto a reconhecer e corrigir os próprios erros. Só fazemos a escolha de seguir ou resistir ao chamado do Espírito (At 7.51) porque a graça de Deus se manifestou — o que chamamos, na teologia, de graça preveniente (Tt 2.11). Josué confronta o povo e os chama ao posicionamento, dando ele mesmo o exemplo. Que nossas igrejas tenham líderes como Josué, pois palavras convencem, mas o exemplo arrasta.
O evangelho revelado nas Escrituras vai além da teoria. Há uma sinergia entre teoria e prática — impossível de separar. Precisamos ser exemplo, mesmo que não sejamos líderes de departamentos ou igrejas. Devemos estar firmados na Palavra. A igreja não é como o mundo, embora muitos tentem imitá-lo, inserindo modismos nos cultos, como baladas e afins, “para que os jovens não se desviem”. Mas não é por aí. Como bem disse D. Martyn Lloyd-Jones:
“Nosso Senhor atraía os pecadores porque Ele era diferente. Aproximavam-se dEle porque sentiam haver nEle algo diferente. Aquela pobre mulher pecadora, acerca de quem lemos em Lucas 7, não se aproximou dos fariseus a fim de lavar-lhes os pés com suas lágrimas, e de enxugá-los com seus cabelos. Não, mas ela pressentiu algo em nosso Senhor — Sua pureza, Sua santidade e Seu amor — e por essa razão se aproximou dEle. Foi a diferença fundamental que nEle havia que a atraiu. E o mundo sempre espera que sejamos diferentes. Essa ideia de que poderemos ganhar pessoas para a fé cristã se lhes mostrarmos que, afinal de contas, somos notavelmente parecidos com elas, é um erro profundo, teológica e psicologicamente falando.” [1]
Quando o Espírito Santo nos controla, naturalmente seremos mansos, humildes, bondosos, longânimos e fiéis. Todavia, se formos guiados pela nossa carne, praticaremos suas obras (Gl 5.19–21). Quando somos verdadeiramente salvos, temos uma vida dirigida pelo Espírito, e isso se manifesta em nossas atitudes (Gl 5.22–24). Como o apóstolo Paulo, sejamos imitadores de Cristo (1 Co 11.1). Não devemos idolatrar pastores, pois são homens falhos como nós. Pertencemos a Cristo e estamos debaixo da unção do Santo (1 Jo 2.20).
Na Nova Aliança instituída por Cristo (Hb 8.13), todos os que possuem o Espírito Santo são ungidos do Senhor (1 Jo 2.20). Todos estão na mesma condição — não importa se é bispo ou membro comum. Estamos todos no mesmo barco, e Deus trata com misericórdia a todos (Rm 11.32).
Sejamos mais do que simpatizantes da Palavra de Deus. Vivamos ela no dia a dia. Assim estaremos nutridos e saudáveis espiritualmente. Somente a graça do Senhor pode nos capacitar, pois é quando estamos fracos que somos fortes (2 Co 12.10).
Referência bibliográfica:
[1] D. Martyn Lloyd-Jones, Pregação e Pregadores, pág. 101.
Nenhum comentário