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Por Flávio G. Souza

A Palavra de Deus deve sempre ser nossa fonte de autoridade, para que possamos avaliar se uma doutrina é verdadeira (Jo 7.24; Ef 5.11), pois somente a Bíblia é inerrante, infalível e inspirada por Deus.

Quando pensei em escrever este artigo, ao pesquisar as passagens bíblicas que tratam deste tema tão importante, vi que não seria uma tarefa fácil. Mas após eu ter visto certos comentários dos que desconhecem a doutrina da depravação total e do pecado original, vi que existe um desconhecimento do assunto, e isso está levando muitas pessoas a acreditarem em doutrinas que não condizem com a Palavra de Deus. Por isso senti que era hora de transcrever o assunto para ajudar a esclarecer este tema tão interessante e complexo. O primeiro ponto que precisamos entender é a depravação total, para que depois venhamos entender o que significa pecado original e como ele foi transmitido a toda raça humana.

Depravação total

A Palavra de Deus diz que o homem foi criado integro, santo e perfeito (Cf. Gn 1.31; Ec 7.29), e também afirma que somos imagem e semelhança de Deus (Gn 1.31). Após Adão ter desobedecido, ele tornou-se escravo do pecado, como consequência a natureza humana foi afetada. A totalidade desta depravação afetou o homem em todos os aspectos, como bem define o teólogo calvinista John Piper:

"Nossa corrupção pecaminosa é tão profunda e tão forte que nos torna escravos do pecado e moralmente incapazes de vencermos nossa rebelião e cegueira. Esta incapacidade de salvarmos a nós mesmos é total. Somos completamente dependentes da Graça de Deus para vencer nossa rebelião, para dar-nos olhos para ver e atrair-nos eficazmente ao Salvador."[1]

Neste ponto calvinistas e arminianos não tem discordância, o pastor e teólogo arminiano Silas Daniel, também corrobora com essa posição:

"O que significa portanto "depravação total"? Significa que, mesmo o ser humano podendo fazer coisas boas, o pecado infelizmente prevalece em seu coração - e mais: contamina todo o seu ser. Esse é o sentido do termo "total" quando falamos de "depravação total do ser humano" a luz da Bíblia. Essa depravação não é total no sentido de intensidade, mas de abrangência. Ela é total porque o pecado, além de prevalecer interiormente, contamina, repito, todas as áreas da vida da pessoa. 

Em síntese, depravação total quer dizer que todos os seres humanos, em todo o seu ser foram contaminados pelo pecado. Significa que o ser humano, após a queda, passou a ter uma inclinação natural e prevalecente para o pecado que impede-o de fazer a vontade divina e de vir a Deus."[2]

A Bíblia confirma a autenticidade desta doutrina, pois todos pecaram, não existe ninguém isento de culpa, tudo consequência do erro de um homem (Cf. Gn 6.5; 8.21; Rm 3.12, 27, 28; 5.12; 7.17). 

Pecado Original 

Se Adão errou, como pode toda a humanidade sofrer a consequência? Isso daria fundamento para maldições hereditárias? Como o pecado adâmico ou pecado original foi transmitido a todos os seres humanos? Para entender este questionamento, é necessário ver o que o Apóstolo Paulo disse em Romanos 5.12, o texto chave para entendermos o pecado original:

Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram.

Romanos 5.12

Como diz o texto, a morte passou para toda a humanidade pela desobediência de Adão e por isso todos pecaram, a questão mais difícil de se entender é, como o pecado de um homem afetou toda humanidade? Por causa desses questionamentos, surgiu duas correntes teológicas condenadas em concílios por heresia, o que conhecemos por pelagianismo e semi-pelagianismo.

Pelagianismo:

Pelagianismo vem de seu expoente, Pelágio, um austero monge e popular professor que nasceu provavelmente na Britânia e que viveu em Roma por volta do ano 405. Sua austeridade era puramente moralista, ao ponto de não conseguir conceber a ideia de que o homem não podia deixar de pecar. Seus interesses estavam mais voltados para a conduta cristã e sendo assim, ele queria melhorar as condições morais de sua comunidade. Sua ênfase particular recaía na pureza pessoal e na abstinência da corrupção e da frivolidade do mundo, resvalando o ascetismo.

Assim como Adão, todo homem, segundo o pensamento pelagiano, é criador de seu próprio caráter e determinador de seu próprio destino. No entendimento pelagiano, o homem não possui uma tendência intrínseca para o mal e tampouco herda essa propensão de Adão, podendo, caso queira, observar os mandamentos divinos sem pecar. Ele achava injusto da parte de Deus que a humanidade herdasse a culpa de outrem e desta forma negava a doutrina do pecado original. Desta forma, Pelágio passou a ensinar uma doutrina exageradamente antropocêntrica e focada no livre-arbítrio, ensinando que, ao criar o homem, Deus não o sujeitou como fizera com as outras criaturas, mas “deu-lhe o privilégio singular de ser capaz de cumprir a vontade divina por sua própria escolha”.[3] O pelagianismo foi condenado no concílio de Éfeso em 431 d.C por ser um ensino herético.

Semi-pelagianismo: 

Esta antiga heresia é oriunda dos ensinos dos massilianos, liderados principalmente por João Cassiano (433 d.C), o qual tentou construir um elo entre o Pelagianismo, que negava o pecado original, e Agostinho, que defendia a eleição incondicional sobre o fundamento de que todos os homens nascem espiritualmente mortos e culpados do pecado de Adão. Cassiano acreditava que as pessoas são capazes de se voltarem para Deus mesmo à parte de qualquer infusão da graça sobrenatural. Isto foi condenado pelo Segundo Concilio de Orange no ano de 529.[4]


A Bíblia é clara em dizer que após o pecado, toda humanidade morreu em Adão, mas Deus por intermédio de sua Graça, entregou seu Filho Unigênito para todos os que creem não fossem condenados, mas recebam o dom gratuito de Deus pela fé (Cf. Rm 3.23; 5.12; 6.23; Jo 3.16; Ef 2.1,8,9; Cl 2.13).


Como o pecado afetou toda humanidade?

Adão no Éden era o representante de toda humanidade, por isso quando ele pecou, a morte entrou no mundo. Adão, o primeiro homem, foi o cabeça divinamente nomeado da humanidade inteira, e o pecado dele fez todos aqueles a quem ele representava perderem a retidão ("todos os homens", vs. 12.18; "muitos", vs. 15. 19). Por semelhante modo, Deus tez de Cristo o cabeça representante de uma nova humanidade, a fim de que, mediante a sua obediência diante da morte. pudesse obter a justificação deles. Inerente a esse ensino é a ideia de que a restauração provida na salvação deve seguir o padrão e reverter o conteúdo da constituição original da humanidade diante de Deus (1 Co 15.45-49; Hb 2.14-18).[5]

O pecado foi passado a toda humanidade, porque Adão pecou como o nosso representante legal, Cristo veio como o segundo Adão, pois ele representa o recomeço para todos os que creem. Muitas pessoas confundem a transmissão do pecado com o falso ensino da maldição hereditária. Diferente da consequência do pecado, o ensino da maldição hereditária diz que Deus nos castiga por causa do pecado dos nossos pais, utilizando-se do texto de Deuteronômio 5.9; 30.19; Êxodo 20.4-6; Levítico 26.39, mas não é bem isso que as passagens afirmam. Se você tem dúvidas acerca deste texto, leia os artigos onde trato diretamente do tema:

Deuteronômio 30.19 da base para 'maldição hereditária'?
Maldição hereditária é um ensino genuinamente bíblico?

Com base neste falso ensino, criaram ensinamentos estranhos sobre espíritos familiares, para tentar justificar por exemplo um caso de adultério, mas em lugar nenhum da Bíblia relata a existência de demônios territoriais ou espíritos familiares que atuam em áreas especificas na vida de uma pessoa. Como sempre digo, é um equivoco afirmar que sofremos "maldições" pelo pecado de nossos antepassados, pois a Palavra de Deus afirma que cada um é responsável por seus próprios erros (Cf. Dt 24.16; Ez 18.20-21; Rm 14.12).

Toda diferença está no conceito bíblico de pecado original, não tem nada relacionado com maldições hereditárias, mas que todos tem em sua natureza, a herança do pecado adâmico, como bem definiu Norman Geisler

"O pecado de Adão afetou não somente a si mesmo, como também toda a sua descendência — todos nós pecamos “por um homem” (Rm 5.12). E todos os descendentes de Adão estavam presentes nele, potencial e seminalmente, e/ou legalmente (juridicamente), já que, como o cabeça da raça humana, ele era o nosso representante legal (Rm 5.18-21)."[6]

Adão como nosso representante legal ao errar, não trouxe consequências apenas para ele, mas pra toda humanidade, por isso recebemos a consequência de sua escolha ao desobedecer a Deus. Na teologia isso é chamado de Efeito jurídico do pecado de Adão. Mas Deus em sua infinita misericórdia enviou o "último Adão” (1 Co 15.45), revogou o ato do primeiro Adão, tornando todos os seres humanos legais e potencialmente salváveis.[7]

Ela nos foi transmitida por Adão, nosso primeiro representante diante de Deus. A doutrina de pecado original nos diz que nós não somos pecadores porque pecamos, mas pecamos porque somos pecadores, nascidos com uma natureza escravizada ao pecado.[8]

A Imagem e semelhança de Deus presente no homem foi perdida após a queda?

A imagem e semelhança de Deus, conforme o homem foi criado (Gn 1.26-27), se trata de um paralelismo. Essa imagem e semelhança não foi perdida na queda, e sim danificada, manchada, obscurecida, mas não erradicada. 

Ela continua no homem, pois Adão não se tornou depravado ao ponto de não ouvir mais a voz de Deus por exemplo (Cf. Gn 3.9-10). Não é à toa que roubar, matar, adulterar, falar palavras torpes, mentir, seja a pessoa seguidora de Jesus ou não, praticar essas coisas é pecado porque somos imagem e semelhança de Deus (Gn 9.6; Pv 6.16-19). 

Como Cristo não herdou uma natureza pecaminosa e viveu uma vida sem pecado?

Essa é uma questão bem polêmica quando debatida entre os teólogos, para os adventistas por exemplo Cristo participou de nossa natureza caídaMas essa afirmação não é coerente com a Palavra de Deus, pois ele foi tentado em tudo, mas sem cometer nenhum pecado (Cf. Hb 4.15). Essa concepção também não é verdadeira, porque todos nós nascemos depravados e somos pecadores desde nossa formação (Cf. Sl 51), seria uma contradição da Bíblia falar que Jesus foi tentado em todas as áreas sem pecado, com uma natureza caída.

O fato de Cristo ter nascido de uma virgem é uma das causas que isenta ele de ter adquirido o pecado original, mas esse não é o ponto central da questão. Em Lucas 1.28-35 temos um relato mais completo do assunto que nos outros evangelhos sinóticos. O anjo ao falar com Maria, explicou como funcionaria essa gestação, ela ficou espantada ao receber a noticia (Lc 1.34), pois ainda estava noiva de José. O texto relata que o Espirito Santo desceria sobre Maria, e o poder do Altíssimo a envolveria e um ser Santo seria gerado no seu ventre.

Como Cristo nasceu sem pecado? 

A razão principal de Cristo não ter pecado, foi o Espirito Santo ter descido sobre Maria, tornando possível a encarnação de Cristo sem pecado. Assim foi possível o segundo Adão ter uma natureza humana, sem herdar o pecado (Cf. Is 53.9; At 3.14; 2 Co 5.21; Hb 4.15; 7.26; 1 Jo 3.5), pelo ato criador do Espirito Santo. A mesma coisa ocorreu de forma semelhante como vemos em Gênesis 1, quando Deus cria todas as coisas, eis a razão de Cristo ter nascido sem o pecado original.

Só foi possível Cristo nos livrar do poder do pecado, porque ele tinha uma natureza Santa e imaculada, se o Filho de Deus fosse participante de nossa natureza caída, seria impossível nos resgatar do poder do pecado (Hb 9.14). Assim ele pode nos conceder liberdade, justificação pelo seu precioso sangue, usando-nos como sal e luz neste mundo, e como instrumentos de justiça em uma sociedade corrompida.

Graça e paz
Deus abençoe.

Referencias Bibliográficas:
[1] Cinco pontos, John Piper, Editora Fiel. 
[2] Arminianismo, Silas Daniel. Pág. 352 CPAD, 2017
[3] Introdução à Teologia Armínio-Wesleyana, Couto, Vinicius. Pág. 62-63, Editora Reflexão, 2014.
[4] Ibid. Pág. 24.
[5] Bíblia de Genebra, Pág. 1325
[6] Teologia Sistemática, Pecado, Salvação, A Igreja, As últimas coisas, Norman Geisler, 1ª Edição 2010, CPAD, Pág. 105.
[7] Ibid.
[8] Bíblia de Genebra, Pág. 650.
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Por Flávio G. Souza

O movimento celular, conhecido pelas nomenclaturas G12, MDA, M12, vem sendo amplamente propagado pelo Brasil como uma "nova revelação" que o seu fundador, pastor colombiano César Castellanos Domíngue diz ter em 1991.

De acordo com Castellanos, Deus o "orientou" para que ele levasse ao mundo o "novo modelo" de crescimento de igreja. Segundo o que está disposto na cartilha do movimento, o mais produtivo é sempre conquistar pessoas "que não tenham visão alguma".

Ora, uma coisa deixa em dúvida este novo modelo, então o que foi praticado desde o período apostólico estava errado? Mas neste estudo não vou entrar no ponto ainda, quero tratar de um tema bem presente no G12, MDA e no M12, conhecido como "cobertura espiritual".

Esta doutrina vai contra o que está revelado nas Sagradas Escrituras, pois não há mais revelações extra-bíblicas, a Bíblia é suficiente e se renova a todo instante. Também não estamos debaixo da cobertura de homens, estamos cobertos pelo sangue de Jesus, ele como nosso Sumo Sacerdote que fez expiação pelos nossos pecados (Cf. Hb 2.17; 7.27), fortalece a todos os que são tentados pelo pecado (Hb 2.18), da Graça em tempo de necessidade (Cf. Hb 4.15-16), nos da a vida eterna (Hb 5.9-10; Jo 5.24), intercede em nome dos que creem em seu nome (Hb 7.25) e nos da confiança para aproximar-se de um Deus santo (Hb 10.19-21).

No manual do encontro com Deus por exemplo, o Renê terra nova afirma que os participantes deste "retiro espiritual" estão debaixo da cobertura do Castellanos, diz ele:

Estamos 'debaixo da cobertura espiritual do tremendo ministério da Missão Carismática Internacional', e, sabendo que o casal Castellanos tem vontade que esta visão corra como a corça, em terras brasileiras, vamos contribuir, divulgando-a pela imprensa escrita, falada e televisiva, para que o nosso povo seja liberto das amarras satânicas e para que sejam arrancados do nosso contexto os espíritos de ruína, pobreza e miséria, como também toda herança maligna.[1] 

Veja que há uma enfase grande em cima do homem, como se os salvos em Cristo por não estarem "prosperando financeiramente" tivessem em pecado ou algo do tipo, mas o evangelho é centrado na pessoa de Jesus Cristo e não em bens materiais. Estamos debaixo da cobertura do sangue de Jesus, e não de homens falhos e pecadores, que no fundo tem o propósito de escravizar as pessoas com suas falsas doutrinas que não condizem com as Sagradas Escrituras (2 Co 4.16). Devemos ter a consciência que somos discípulos de Cristo (Cf. Jo 8.31-32) e nunca de pessoas que se dispõe a falar do evangelho para um novo convertido. As pessoas devem ver a Cristo em nossa vida (1 Co 11.1) e não pedir por nossa "cobertura espiritual", pois todos os que receberam o Espirito Santo são ungidos do Senhor (1 Jo 2.20; Ef 4.30).

Portanto, é importante estarmos vacinados contra as heresias que vão de confronto com a fé cristã, a Bíblia já nos alerta sobre isso (1 Jo 2.18). O evangelho trabalha na simplicidade e não com "novas revelações" como foi o caso do Castellanos, descartando assim todo o modelo evangelístico desde os tempos apostólicos.

Graça e paz
Deus abençoe

Referencias Bibliográficas:
[1] Guia oficial do encontro com Deus, Renê terra nova.
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Por Flávio G. Souza

É comum encontrarmos em algumas igrejas, o que muitos chamam de ministério de dança ou departamento de dança. Mas a pergunta que fica para refletirmos, será que é correto usar a dança como elemento de adoração no culto ao Senhor? Eu particularmente não vejo na Palavra de Deus uma ordenança que fundamente o ministério de dança, pois já fui em congressos onde esse grupo mas atrapalhava que contribuía.

Os textos que são usados na tentativa de fundamentar a dança no culto, é o Salmos 149.3 e 150.4, e neste estudo irei detalhar com clareza que o salmista não fundamenta o uso a dança como elemento litúrgico no culto para adorar a Deus.

Não existe no Novo Testamento uma ordenança sobre a dança sendo utilizada como elemento litúrgico. Neste detalhe já é possível criar grandes dúvidas acerca desta prática, pois como vamos aplicar coisas do Antigo Testamento a nossa vida se não olharmos o cumprimento no Novo? Tudo o que está no Antigo Testamento também se encontra presente no Novo, e assim vice versa. E estranhamente não vemos no Novo Testamento ninguém dançando quando se trata de cultuar e louvar ao Senhor.

O culto ao Senhor conforme está revelado no Novo Testamento, deve ser em espírito e em verdade, sem a dança, não temos um versículo que ordene ela como elemento litúrgico. Assim como disse Jesus a mulher samaritana (Jo 4.23-24), e o Apóstolo Paulo quando falou do culto racional (Rm 12.1).

O pastor Ciro Sanches Zibordi também faz um comentário sobre a adoração, comenta ele: "..Você já notou como os jovens costumam empregar o verbo adorar para quase tudo de que gostam, menos em relação a Deus? "Adoro cantar", "Adoro dançar", "Adoro ouvir música", "Adoro chocolate, etc. Mas, quando vão falar do Senhor Jesus, o único de fato digno de adoração, dizem: Estou apaixonado. Isso ocorre principalmente por influência de cantores-ídolos que adoram empregar frases de efeito, como: Essa é uma geração de apaixonados ou Deus não rejeita um coração apaixonado. 

Paixão, por definição, é irracional, passageira e não leva em conta princípios. A adoração, ao contrário, é racional (Rm 12.1), verdadeira (Jo 4.23,24) e envolve tudo o que há em nós: espírito, alma e corpo, principalmente o nosso espírito, que é a parte mais profunda de nosso ser (1 Ts 5.23; Lc 1.46,47; Sl 57.7). 

Alguém poderá perguntar: O que vale não é a intenção? Na verdade, não podemos, ainda que bem intencionados, aceitar todas e quaisquer influências do mundo. E o clichê em análise, conquanto para muitos seja apenas uma simples questão de semântica, tem levado os jovens à concepção distorcida da verdadeira adoração a Deus, acima de todas as coisas, o que é muito mais que estar apaixonado! Sei que alguém, ao ler esta abordagem, pode não estar muito apaixonado por este livro e seu autor. Mas espero, sinceramente, que reflita sobre a importância de adorar somente ao Senhor Jesus e segui-lo, abandonando a postura de fã (Lc 9.23). Não adianta nada alguém usar uma camiseta com os dizeres Apaixonado por Jesus ou viver cantando "..Apaixonado, apaixonado, apaixonado..", se não andar como Jesus andou (1 Jo 2.6)! Abandone, pois, essa canoa furada da geração dos apaixonados! Embarque no navio cujos passageiros são os verdadeiros adoradores, que seguem ao Senhor Jesus, que disse: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele servirás... (Mt 4.10). [1]

Sobre a dança não estar presente no Novo Testamento o mesmo se posiciona contra essa prática:

Ao longo da História, a dança nunca esteve presente na liturgia das igrejas cristãs. No Brasil, também não víamos isso há alguns anos. Uma ou outra pessoa falava em "dança no Espírito", e outras cantavam, sem dançar, o famoso corinho "Se o Espírito de Deus se move em mim, eu danço como Davi".

Todavia, esse assunto sempre foi controvertido, e a liderança, de maneira geral, não aceitava a dança como parte integrante do culto a Deus. De uns tempos para cá, alguém descobriu a América! Muita gente pensa ter encontrado uma "verdade cristalina" na Bíblia: a dança faz parte do culto coletivo ao Senhor. "Deus nos libertou da escravidão, e temos de adorá-lo também com a nossa arte", dizem alguns defensores desse modismo. E por aí vai. Não há mais limites! Onde vamos parar? Nos Estados Unidos, já ocorre até luta livre em alguns "cultos". E o Brasil não está longe disso.

Algumas igrejas são mais moderadas e têm apenas uma coreografia simples. Outras... meu Deus! A cada dia, perde-se o temor. Ainda não vi, para ser sincero, porém não duvido de que já haja "cultos" em que jovens dancem rebolando até ao chão, como ocorrem em bailes funk. A bem da verdade, nas chamadas "baladas" gospel isso já acontece...

Há poucos anos, os jovens passavam a noite em vigília, orando, estudando a Palavra. Assim era no meu tempo, e eu não sou velho (tenho apenas 37 anos). Hoje, a juventude vai para a "balada". Tudo isso graças ao incentivo de líderes inescrupulosos, sem compromisso com a Palavra de Deus, movidos por outros interesses, como dinheiro e fama. É como se dissessem: "É melhor o jovem pecar aqui do que no mundo". Ignoram que, para seguir a Cristo, é preciso negar-se a si mesmo (Lc 9.23) e não se conformar com este mundo (Rm 12.1,2).[2]

Salmos 150 é fundamento para dançar no culto?

As pessoas que acreditam em ministério de dança, se refugiam em versículos do Antigo Testamento para tentar fundamentar a prática como um elemento litúrgico, citando Salmos 150.4 que diz:

Louvai-o com o tamborim e a dança, louvai-o com instrumentos de cordas e com órgãos


E Salmos 149.3:

Louvem o seu nome com danças; cantem-lhe o seu louvor com tamborim e harpa.

Utilizam esses textos na tentativa de afirmar que a dança pode ser usada como um elemento litúrgico, mas a pergunta que fica, será mesmo que isso têm fundamento bíblico? Se tomado de forma isolada, sem olhar o contexto, cultura, objetivo do autor, não compararmos as traduções disponíveis, podemos dizer que sim, mas se fizermos uma análise profunda do texto iremos descobrir que não é bem o que muitos afirmam.

Muitas versões traduzem a palavra hebraica מחול (machowl) presente em Salmos 150.4 por dança, a Almeida Revista e Corrigida (ARC) traduz por flauta, no mesmo texto. Isso acontece por causa da presença de uma variante textual. Vendo esse detalhe fica claro que o salmista está enumerando uma lista de instrumentos, e não especificamente uma ordenança para ter grupos de dança na igreja na adoração ao Senhor. Ocorre também em Salmos 149.3, na Almeida Revista Atualizada (ARA) a mesma palavra hebraica מחול (machowl) é traduzida por flauta, se referindo a um instrumento e não a dança no santuário.

Alguns irão fazer o seguinte questionamento, "mas Miriã dançou", sim, mas não foi no culto, a dança existia no Antigo Testamento, e era diferente da forma que se entende hoje. A dança no Antigo Testamento, diferente do que muita gente pensa, não era usada como elemento litúrgico, era utilizada como forma de celebração, se trata de uma questão cultural (Cf. Ex 32.19; Jz 11.34; 21.21; 1 Sm 30.16; Jó 21.11; Ec 3.4; Jr 31.4; Mc 6.22;  Ex 15.20; 2 Sm 6.14). Podemos até dizer que existia dança no santuário no Antigo Testamento, mas isso ocorria nos cultos pagãos (1 Rs 18.26).

O pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, Augustus Nicodemus também faz uma colocação sobre o texto, diz ele: "De qualquer forma, vê-se que a palavra pode ter sentido diferente de dançar. Várias traduções de Salmos 150:4 traduziram machowl por “flauta”, como a Almeida Corrigida, a Bíblia de Genebra 1599, a Reina-Valera 1909, entre outras. Douay-Rheims traduziu Salmo 150 — por “coral”. Calvino, em seu comentário de Salmos, preferiu traduzir por “flauta”.

Temos de admitir que a maioria das traduções preferiu “danças”. Em minha opinião, é perfeitamente possível. Todavia, se o salmista estiver se referindo a um instrumento musical, como “flauta”, se encaixaria perfeitamente no contexto, pois os versículos 3-5 estão mencionando instrumentos musicais usados em Israel, como trombeta, saltério, harpa, adufes, instrumentos de cordas, flautas, címbalos sonoros e címbalos retumbantes. Esses versículos não estão dando uma descrição do que se fazia no culto a Deus executado no templo, mas apenas enumerando os instrumentos musicais de toda espécie, todos eles convocados para o louvor de Deus.

Se levarmos em consideração as variáveis acima, o salmo 150 pode ser simplesmente um chamado universal a anjos, homens e animais para que louvem a Deus, e que os homens o façam com toda sorte de instrumentos musicais. Não está se falando do culto no templo terreno nem de danças." [3]

Muitos usam versos isolados da Palavra de Deus na tentativa de apoiar o que ela não afirma, Ciro Sanches Zibordi faz um comentário interessante a respeito dessas práticas, diz ele: "Do jeito que a dança é propagada e defendida hoje, fica a impressão de que há várias passagens bíblicas que a apoiam. Porém, não existe sequer um versículo nos mandando ou nos autorizando a dançar na casa de Deus! No Novo Testamento não há nenhum incentivo à sua introdução no culto. Os dois únicos textos que poderiam ser usados como incentivo à dança estão nos Salmos 149 e 150, no Antigo Testamento. Mas não são passagens que falam propriamente da dança no culto da igreja do Senhor.

Alguns exegetas discutem se o termo original traduzido em algumas versões em português para "dança" nos textos acima, significa flauta ou harpa. Entretanto, mesmo aceitando se que os Salmos 149 e 150 aludem à dança entre os hebreus — o que não seria nenhuma novidade (Jz 11.34; Ec 3.4; Lm 5.15) —, eles nada têm que ver, diretamente, com o culto do Novo Testamento. Lembre-se de que a mensagem da Bíblia se dirige a três povos: judeus, gentios e igreja (1 Co 10.32). E nem sempre um mandamento pode ser considerado universal, isto é, para todos.

Se aplicarmos a nós o que dizem os tais Salmos, na íntegra, teremos de louvar a Deus com uma espada na mão e tomar vingança das nações, literalmente! Estejam na sua garganta os altos louvores de Deus e espada de dois fios, nas suas mãos, para tomarem vingança das nações e darem repreensões aos povos, para prenderem os seus reis com cadeias e os seus nobres, com grilhões de ferro (Sl 149.6-8). Alguém dirá: Ora, irmão Ciro, não exagere. Tudo isso pode ser aplicado de maneira figurada. É mesmo? Então por que a dança deve ser aplicada de modo literal? Por que empunhar uma espada e tomar vingança das nações é figurado, e dançar não?! Por que não consideramos, então, que devemos dançar espiritualmente, e não com o corpo? Interessante como é fácil priorizar preferências pessoais, para depois encontrar na Bíblia versículos isolados em apoio a invencionices! [4]

Não temos autoridade de acrescentar grupos de dança como um elemento litúrgico, achando que estamos adorando a Deus, usando o famoso argumento, "mas o que vale é a intenção", porém com Deus não é assim, fazemos somente o que Ele ordena (Dt 4.2). Os modismos estão cada vez mais sendo aceitos nas igrejas, e a Bíblia é clara quando diz Deus abomina que nós inventemos o nosso modo de adorar (Dt 12.8). Portanto não existe uma base bíblica para o chamado "ministério de dança", e não podemos oferecer uma adoração que não esteja em conformidade com a Palavra de Deus, o que passar disso é invenção e fogo estranho. Se lembre do caso Nadabe e Abiú ao oferecerem fogo estranho ao Senhor.

Referências Bibliográficas:
[1] Ciro Sanchez Zibordi, Mais erros que os pregadores devem evitar, CPAD, 2007.
[2] Ibid.
[3] O Ateísmo Cristão e outras ameaças à Igreja / Augustus Nicodemus Lopes — São Paulo: Mundo Cristão, 2011. Pág. 195.
[4] Ciro Sanchez Zibordi, Mais erros que os pregadores devem evitar, CPAD.
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Por Flávio G. Souza

A verdadeira adoração vem sendo negligenciada pelos que deveriam conhecer a Bíblia, é uma triste realidade ver tamanha apostasia que a igreja se encontra. Este fato é apenas um reflexo da falta do ensino da Palavra nos cultos, isso vem levando muitos cristãos sinceros a terem um conceito equivocado sobre quem Deus é.

Adoração não é só cantar, vai além disso. No dicionário bíblico Wycliffe adoração tem o significado de: 'venerar', 'inclinar-se perante', 'beijar a mão', 'fazer reverência a'. Compreendendo o significado da palavra, já é um caminho para compreendermos algo que vem sendo distorcido por pessoas que dizem adorar a Deus, cantando mais músicas de autoajuda do que um cântico que tenha uma adoração genuinamente bíblica.

1. O que é adorar a Deus?

1.1. No Antigo Testamento temos os seguintes termos que são usados para adoração:
A. Abodah, vem de uma raiz hebraica que significa "servir" ou "trabalhar". É geralmente traduzida por "o serviço de Deus".
B. Hishtahawah, é de uma raiz hebraica que significa "curvar" ou "prostra-se" (Cf. Êx 4.31).

1.2. Os principais termos do Novo Testamento seguem os termos hebraicos:
A. Para abodahlatreia, que é o estado de um trabalhador contratado ou escravo.
B. Para hishtahawahproskuneo, que representa "prostrar-se", "venerar" ou "adorar".

1.3. Observe, há duas áreas que a adoração impacta:
A. Nossa atitude de respeito;
B. Nossas ações de estilo de vida.

Ambas devem andar juntas ou então grandes problemas serão provocados (Cf. Dt 11.13).

2. O propósito da adoração 

Visa estabelecer ou dar expressão a um relacionamento entre a criatura e a divindade. A adoração é praticada prestando-se reverência e homenagem religiosa a Deus (ou a um deus) em pensamento, sentimento ou ato, com ou a ajuda de símbolos e ritos. A adoração pura expressa a veneração sem fazer alguma petição, e pressupõe a auto-renúncia e a entrega sacrificial a Deus.

3. O que é adoração?

Estritamente falando adoração é a ocupação da alma com o próprio Deus, e não inclui a oração por necessidades e ação de graças pelas bençãos. A adoração é representada na Bíblia principalmente por duas palavras: no AT a palavra heb. shaha (mais de 100 vezes) significando “curvar-se diante”, “prostrar-se”, (Gn 22.5; 42.6: 48.12; Êx 24.1; Jz 7.15; 1 Sm 25.41; Jó 1.20; Sl 22.27; 86.9), e no NT a palavra gr. proskyneo (59 vezes), significando "prostrar-se”, “prestar homenagem a alguém” (Mt 2.2,8,11; 4,9; Mc 5.6; 15.19; Lc 4.7,8: Jo 4.20-22 etc.). Essas duas palavras são constantemente traduzidas pela palavra 'adoração׳’, denotando o valor daquele que recebe a honra ou devoção especial. Ambos os termos “adoração” e “digno” podem ser vistos juntos na grande descrição dos 24 anciãos prostrando-se diante daquele que se assenta no trono (Ap 4.10-11; cf. 5.8-14).[1]

4. Como devemos adorar?

Quando Jesus estava conversando com a mulher samaritana, descreveu bem como deve ser a adoração. Na Nova Aliança (Hb 8.13) que Cristo inaugurou, o local de adoração é definido pela pessoa. O que importa é que os verdadeiros adoradores adorem ao Pai, a quem Cristo veio revelar. A verdadeira adoração tem como definição nas Sagradas Escrituras, "..os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade". João 4.24.

O foco de nossa adoração é Deus, e Ele procura os que adoram em espírito e em verdade. Devemos adorar através de nosso espírito, expressando através da alma e refletindo na nossa maneira de agir. Nossa adoração deve ser verdadeira, conforme a realidade das Escrituras (Cf. Mt 14.33; 22.16; 26.73; 27.54; Mc 5.33; 12.32; Lc 16.11). Para descobrirmos se a adoração é verdadeira, precisamos nos espelhar em Jesus Cristo, que é nossa verdade absoluta (Jo 14.6), pois a forma que ele agiu e ensinou, são expressões do próprio Deus (Cf. Jo 5.19, 36; 8.19-28; 12,50), e mais tarde através do Espirito da verdade (Jo 4.23; 14.17; 15.26; 16.13).


5. O louvor exalta a Deus

A falta de conhecimento das Sagradas Escrituras por parte de alguns compositores, faz com que as letras de suas músicas que se intitulam "gospel", não possuam nada de conteúdo bíblico. Mas então porque alguns cristãos ainda aceitam esses "louvores" dentro das igrejas? A Bíblia por si só nos da a resposta:

"O meu povo é destruído porque não me conhece, e a culpa é de vocês, sacerdotes, porque se recusam a me conhecer. Por isso eu não os reconhecerei como sacerdotes; já que se esqueceram da lei do seu Deus, eu também ignorarei seus filhos."

Oséias 4.6

A culpa de nossos compositores estarem fazendo músicas ruins é por parte da liderança em geral e porque alguns frequentadores de igreja se recusam a conhecer o que Deus ordena na Sua Palavra, criando para si o seu próprio deus. É da liderança porque não há um incentivo ao estudo da Bíblia, e quando os líderes procuram incentivar, alguns, se não a maioria recusam-se a querer conhecer mais a Palavra.

6. O que é louvor?

Louvor significa elogio, deve ser natural exaltarmos a Deus em nossos cânticos, mas os intitulados "louvores" são vazios de conteúdo bíblico. Os louvores modernos estão exaltando mais o ser humano e colocando Deus como um coitadinho, esqueceram que Ele é Soberano? Quando nosso cântico exalta a Deus, elogiamos Sua Glória, Majestade, Poder e Soberania. Desde o membro mais antigo até o mais novo, todos devem adorar a Deus em unidade e comunhão, não é à toa que a igreja é comparada a um corpo.

Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também.


1 Coríntios 12.12

As músicas que exaltam o ego humano além de promoverem discórdia entre os irmãos, produzem o egoísmo, por isso não devemos aceitar que elas façam parte do nosso repertório musical.

A igreja é comparada a uma família, a um exército, a um templo, a uma noiva. Porém, a figura predileta de Paulo para descrever a igreja é o corpo. Por que Paulo tem predileção por essa figura? Porque ela é uma das mais completas para descrever a igreja. O apóstolo Paulo destaca três grandes verdades, que vamos considerar. Em primeiro lugar, a unidade do corpo (12.12,13). O corpo é uno. Sua principal característica é a unidade. Todos os que creem em Cristo são um, fazem parte do mesmo corpo, da mesma família, do mesmo rebanho. Essa unidade não é organizacional nem denominacional, mas espiritual. Nós confessamos o mesmo Senhor (12.1-3), dependemos do mesmo Deus (12.4-6), ministramos no mesmo corpo (12.7-11), e experimentamos o mesmo batismo (12.12,13).[2]

Em segundo lugar, a diversidade do corpo (12.14-20). O corpo embora uno tem uma grande diversidade de membros (12.14). O que torna o corpo bonito e funcional é o fato de ele ter seus membros harmoniosamente distribuídos e todos trabalhando juntos para o bem comum. Os membros do corpo são belos quando distribuídos com proporcionalidade. Um nariz que se desenvolve além do normal deforma o rosto. O olho é um órgão lindo e nobre. Ele é o farol do corpo humano. Contudo, já
imaginou se você encontrasse um olho de 75 quilos na rua? Você sairia correndo, pois esse olho gigante mais se assemelharia a um monstro. Paulo pergunta: “Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? (12.17). A beleza do corpo está na sua diversidade e na sua proporcionalidade.[3]

Em terceiro lugar, a mutualidade do corpo (12.21-31). Quando Paulo fala da mutualidade do corpo, exorta a igreja sobre cinco questões importantes.

a) O perigo do complexo de inferioridade. Paulo escreve: “Se disser o pé: Porque não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixa de ser do corpo. Se o ouvido disser: Porque não sou olho, não sou do corpo; nem por isso deixa de o ser” (12.15,16). Quando alguém reclama de não ter este ou aquele dom espiritual, está questionando a sabedoria de Deus. Isso é culpar a Deus de falta de sabedoria. Isso é questionar a unidade do corpo. Nenhum membro da igreja deve se comparar, nem se contrastar com outro membro da igreja. Você é único. Você é singular no corpo. Deus colocou você no corpo como Lhe aprouve. Exerça a função que Deus lhe deu no corpo. Ficar ressentido por não ter este ou aquele dom espiritual é imaturidade. Devemos exercer nosso papel no corpo com alegria, zelo e fidelidade. Somos únicos e singulares para Deus.

b) O perigo do complexo de superioridade. O apóstolo Paulo afirma: Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós. Pelo contrário, os membros do corpo que parecem ser mais fracos são necessários; e os que nos parecem menos dignos no corpo, a estes damos muito maior honra; também os que em nós não são decorosos, revestimos de especial honra. Mas os nossos membros nobres não têm necessidade disso. Contudo, Deus coordenou o corpo, concedendo muito mais honra àquilo que menos tinha (12.21-24).[4]

A Igreja de Deus não tem espaço para disputa de prestígio. A igreja não é uma feira de vaidades. O apóstolo Paulo pergunta: “Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?” (4.7). Não há espaço na igreja para a vangloria. Nenhum membro da igreja pode envaidecer-se pelos dons que recebeu.[5]

7. Adorando com o coração


Usar boas formas pode significar somente que somos formalistas, indo junto com a maré na adoração. Jesus citou Isaías quando disse, “Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim” (Mateus 15:18). De uma disposição similar, Paulo advertiu contra aqueles “que têm a forma de piedade, mas negam o seu poder” (2 Timóteo 3:5). A verdadeira adoração ocorre quando adoramos com o coração.
  • Preparando para a Adoração
Para nos encontrarmos com Deus precisamos vir à adoração preparados. Precisamos vir bem descansados, expectantes, ponderadamente prontos para nos encontrarmos com Deus. Precisamos estar cientes de que Deus estará presente nos elementos da adoração que Ele apontou. Ele estará presente para falar através da Sua Palavra e estará presente para ouvir nosso louvor e orações. Precisamos vir com claro entendimento das formas nas quais a adoração com o povo de Deus irá nos abençoar, e devemos vir procurando tal benção.

Chegamo-nos à adoração em fé. A fé é confiar em Cristo, descansar em Sua obra consumada para o perdão dos nossos pecados. Nossa fé deve ser real à medida que vamos à igreja, de forma que nossa confiança em Cristo possa aprofundar. Chegamos à adoração com arrependimento, reconhecendo que somos pecadores e buscando a graça de Deus, para que mais e mais nos voltemos do pecado e persigamos a santidade. Chegamo-nos à adoração com amor por Deus e pelo Seu povo. Tal amor nos faz desejar comunhão com o povo de Deus e desejar nos achegar mais a Deus.[6]

8. Avaliando a Adoração

Com tantas abordagens sobre como adorar e tantas variedades de igreja para igreja, o cristão deve se tornar um avaliador da adoração. A questão “Como devemos adorar?” está inevitavelmente ligada à questão “Onde devemos adorar?”. Uma vez que sabemos o que agrada a Deus na adoração, precisamos estar onde tal adoração ocorre. Para avaliar a adoração de uma maneira apropriada, você precisa começar consigo mesmo. 

Você precisa se autoavaliar.

Você precisa perguntar para si mesmo o seguinte:

• Quanto eu sei sobre o que a Bíblia diz sobre adoração?
• Quem pode me ajudar a aprender mais sobre a adoração
bíblica?
• Eu desejo acima de tudo me achegar a Deus em adoração?
• Eu desejo agradar a Deus, ao invés de me agradar, na adoração?
• Eu desejo entender minha responsabilidade de adorar a Deus
com Seu povo regularmente?
• Eu buscarei a vontade de Deus na adoração, enquanto evito um
espírito legalista e de julgamento para com os outros?
• Você também precisa fazer estas perguntas sobre a adoração,
com respeito a qualquer igreja que você planeje atender:
• Esta igreja ama e crê na Bíblia?
• A adoração desta igreja está cheia da Palavra de Deus?
• Quanto do tempo do culto é dado à leitura da Bíblia?
• Quanto do tempo do culto é dado à oração bíblica?
• Quanto do tempo do culto é dado ao cântico que é bíblico no
conteúdo e no caráter?
• Qual é o conteúdo da pregação?
• A pregação é uma parte substancial do culto?
• A Lei de Deus é claramente apresentada no culto?
• O Evangelho de Jesus Cristo é claramente expresso e central
no culto?
• Qual é o papel dos sacramentos no ministério da igreja?
• Há elementos no culto que são mais de entretenimento do que
bíblicos?[7]

Referencias Bibliográficas:
[1] Dicionário Bíblico Wycliffe, CPAD.
[2] Lopes, Hernandes Dias, 1 Coríntios: Como resolver conflitos na igreja / Hernandes Dias Lopes. — São Paulo: Hagnos, 2008. Pág.
[3] Ibid.
[4] Ibid.
[5] Ibid.
[6] Agradando a Deus em Nossa Adoração/ Robert Godfrey, Recife: Editora Os Puritanos/Clire, 2012 Pág. 37.
[7] Ibid. 39.
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Por Flávio G. Souza

Uma vez fui questionado na igreja sobre a segurança eterna da salvação, e foi-me solicitado uma explicação do texto de Ex 32.32. Um texto que é aparentemente difícil, mas quando analisado com as ferramentas adequadas, só exige um pouco mais de atenção para se interpretar.

A primeira questão que devemos levantar sobre o texto é, a que livro ele está se referindo, e qual a cultura em que foi escrito. Antes de entrar diretamente no ponto, precisamos analisar um fator essencial, existe alguma garantia da segurança Eterna dos Santos no Antigo Testamento? Sim, existe, encontramos em Jr 31.31-33 e 32.28-40:

Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei uma aliança nova com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porque eles invalidaram a minha aliança apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor. Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.

Jeremias 31:31-33

E eles serão o meu povo, e eu lhes serei o seu Deus; E lhes darei um mesmo coração, e um só caminho, para que me temam todos os dias, para seu bem, e o bem de seus filhos, depois deles. E farei com eles uma aliança eterna de não me desviar de fazer-lhes o bem; e porei o meu temor nos seus corações, para que nunca se apartem de mim.

Jeremias 32:38-40


Como então iremos conciliar o texto de Jeremias 31.31-33 e 32.38-40 com Ex 32.32? Parece difícil, mas não é. No Novo Testamento temos sete referências sobre o livro da vida (Lc 10.20; Fp 4.3; Ap 3.5; 13.8; 17.8; 20.12, 15; 21.27). O livro mencionado no texto de Êxodo não é o mesmo descrito no Novo Testamento. E Deus da mesma maneira possui um registro do seu povo (Sl 56.8). Era comum naquela época os governantes catalogarem um registro de cidadãos, quando alguém morria o nome da pessoa era riscado, é notável uma diferença do livro que Deus ameaça riscar. A passagem de Ex 32 na verdade trata-se de uma morte física e não uma perda da salvação.

Se o texto Êx 32.32 realmente for um fundamento de 'perda de salvação', vamos comprometer diversos textos que afirmam que a salvação é irrevogável. Em Ap 3.5 Jesus garante que de modo algum apagará o nome do cristão do livro da vida. Se trata de livros diferentes, e não devem ser confundidos. Paulo escrevendo aos Efésios diz que o Espírito Santo é o selo de propriedade que pertencemos a Deus, e ao mesmo tempo, a garantia de que sua segurança eterna está garantida (Ef 1.13-14). A salvação é irrevogável pelo fato de ser iniciada e completada por Deus (Cf. Fp 1.6; Rm 8.28-30). Jesus nos dá a vida eterna, quem recebe jamais irá perecer (Jo 10.28), pois nada pode nos separar do amor de Deus (Jo 10.29; Rm 8.38-39).

Porque devemos chegar a essa conclusão? Primeiramente, Deus não atendeu ao pedido de Moisés. Deus castigou o povo severamente (v. 35), morrendo um número não especificado de pessoas, mas o povo de Israel, como um todo, teve a permissão de continuar existindo como nação. O sentimento de Moisés na verdade era ser condenado no lugar do povo, ele não 'perdeu a salvação'. O Apóstolo Paulo por exemplo no Novo Testamento expressa o mesmo desejo que Moisés (Cf. Rm 9.1-5; 10.1-2).

Moisés queria se colocar como sacrifício no lugar do povo, mas só existe uma propiciação pelos pecados da humanidade, a morte na cruz do Filho de Deus (Cf. Rm 5.18; 2 Co 5.14; 15., 18-21; 1 Jo 2.1-2; Hb 9.11-14). Embora fosse uma atitude de amor profundo de Moisés pelo pecado do povo, um pecador não pode remir outro pecador (Sl 49.7-8), os que pecam são responsáveis por seu próprio pecado (Cf. Dt 24:16; Ez 18.4). E a misericórdia de Deus não pode ser movida pela vontade do homem (Rm 9.15-16), metaforicamente falando, o livro descrito em Ex 32.32 é o registro da comunidade teocrática (Sl. 69.28; 139.16; Is. 4.3; Dn 12.11; Ml. 3.16). Portanto, pela passagem de Ex 32, é insustentável a afirmação que 'Deus risca o nome' do salvo do livro da vida.

Bíblias Utilizadas:

Bíblia Thompson
Bíblia Apologética com os Apócrifos
Bíblia de Jerusalém
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Por Flávio G. Souza

Devido a falta de ensino nas nossas igrejas, muitos não estão sabendo interpretar a Bíblia corretamente. Mas, a partir do momento que nos dedicamos para aprender mais sobre a Palavra, toda nossa vida é transformada. Vamos refletir então sobre o que Jesus nos ensinou ao falar sobre a vingança?

O sermão do monte é o mais longo e completo sermão ininterrupto do nosso Senhor Jesus Cristo que temos registrado em todos os evangelhos. Ele vai além de algo doutrinário, é algo prático sobre as coisas que devemos crer.

A LEI DA RETALIAÇÃO

Mt 5.38 - A lei retaliação é o princípio básico de justiça refletido pela Lei de Moisés, que era Olho por olho e dente por dente (Cf. Êx 21.24; Lv 24.20; Dt 19.21), o propósito deste mandamento não era encorajar os homens a retribuírem a agressão sofrida, mas proibi-los de executar uma penalidade maior que o crime. Jesus no sermão do monte apresenta uma lei mais elevada, a da não retaliação. Seu mandamento literalmente era, "Não retribua a agressão!".

Ele aplica esse princípio de cinco maneiras específicas:
- Ofereça a outra face;
- Deixe levar a sua capa;
- Acompanhe a pessoa em uma segunda milha;
- De a quem pedir;
- Não desvie daquele que quiser que lhe empreste.

As palavras de Jesus não podem ser interpretadas de forma literal, é um erro, ele na verdade nos ensina princípios fundamentais para nossa caminhada cristã.

1. Olho por olho dente por dente (v.38): A intenção original de Êx 21.24; Lv 24.20; Dt 19.21 é que a punição deveria ser justa e adequada ao crime. Estas limitações proibiam severamente a vingança maior (tal como a de Lameque, que se gabou em Gn 4.23), e que houvesse diferentes penalidades para diferentes classes sociais. Jesus se contrapôs àqueles que viam neste princípio para a vingança pessoal.

2. Oferecer a outra face (v.39): Entre os judeus, o ato de bater na face direita de alguém com as costas da mão era um insulto, provocação e não exatamente uma agressão física. Jesus exorta os seus discípulos a oferecerem a outra face em sinal de paz e disposição para um acordo. Isso no contexto, significa "não busque restituição na corte". Uma bofetada na face direita com as costas da mão significa um insulto, injúria e uma provocação, a observação de Jesus pode lembrar as palavras do Servo do Senhor, em Is 50.6.

Para muitos judeus desse tempo, estas declarações eram ofensivas. Um Messias que dava a outra bochecha, não podia ser o líder militar que esperavam para liderar uma revolta contra Roma. Os judeus esperavam um Messias Político, e como estavam sob a opressão romana, sonhavam com represálias contra seus inimigos. Mas Jesus sugeriu uma nova resposta à injustiça. Em lugar de demandar nossos direitos, devemos cedê-los. A declaração radical de Jesus diz que é mais importante repartir justiça e misericórdia que as demandar.


Isso também não quer dizer que iremos aceitar tudo, se não há um osso quebrado, devemos perdoar e esquecer. Se houver um dano físico ou moral por conta dessa agressão, devemos procurar nossos direitos, não por desejo de vingança, mas que a punição para este crime venha ser aplicada pelo responsável por executar as leis. Como cidadãos não podemos permitir que pessoas saiam fazendo qualquer coisa, ainda mais quando se trata de agressão física. Certamente alguns irão zombar quando você perdoar os que te ofendem, mas quem é sábio sabe que fazer isso é um ato de sabedoria e de certa forma revelará que somos verdadeiros seguidores de Cristo.

3. Tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa (v.40): Esta ilustração tem relação com a perda de uma vestimenta. Que é um mal causado a mim e meus bens. Observe, é comum que os processos legais sejam usados para o caso de ofensas graves. Embora os juízes sejam justos e sérios, ainda assim é possível que os homens maus, que não têm consciência de juramentos e falsificações, retirem, pelo curso da lei, a vestimenta dos ombros de um homem. Não te maravilhes de semelhante caso (Cf. Ec 5.8), mas, neste caso, em lugar de procurar a lei como uma forma de vingança, em lugar de exibir uma contra-acusação, ou de resistir ao máximo, na defesa daquilo que é o seu direito indiscutível, deixe-o levar também a capa. Se a questão for pequena, algo que possamos perder sem um dano considerável às nossas famílias, é bom sujeitarmo-nos a isto, pelo bem da paz. Em outras palavras: “Não lhe custará tanto comprar outra vestimenta, quanto irá lhe custar o curso da lei para recuperá-la; portanto, a menos que você possa obtê-la novamente, por meios justos, é melhor deixar que ele a leve”. [1]

Também tem relação com as leis dos fariseus: um credor tinha o direto de exigir a túnica do devedor por uma dívida não paga. Quando não recebia por bem, tinha o direito de exigi-la por meio de um processo jurídico. Mas de acordo com Mateus 24.10-13, deveria ceder a roupa do dono, conforme suas necessidades diárias de uso. Diante dessas questões jurídicas bobas, Jesus exorta os seus discípulos a serem altruístas. Se credores, a desistir do penhor, se devedores, a dar além do devido, entregando também a capa que era vestida sobre a túnica.

4. E, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas (v. 41): Obrigar alguém a andar uma milha é ofender a mim e a minha liberdade (v. 41). “Se qualquer te obrigar a caminhar uma milha” o resumo de tudo isto é que os cristãos não devem ser litigiosos; devem submeter-se às pequenas ofensas e não prestar atenção a elas; e se a ofensa for tal que exige que procuremos reparação, que seja com uma boa finalidade, sem pensamento de vingança. Embora não devamos motivar e provocar as ofensas, nós devemos enfrentá-las alegremente no caminho do dever, e aproveitá-las ao máximo. Se alguém disser que a carne, e o sangue não podem tolerar uma ofensa, faça com que esta pessoa se lembre de que a carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus. [2]

Jesus disse isso porque os soldados romanos que ocupavam o país podiam obrigar a qualquer um a levar sua carga até por uma milha. O verbo grego traduzido por "forçar" (αγγαρευω/aggareuo) advém de uma antiga palavra persa que significa "recrutar força". Curiosamente, é a mesma palavra que aparece no final do livro de Mateus 27.32, quando os soldados romanos "recrutam forças" Simão, para ajudar Jesus a carregar a cruz. Os fariseus haviam imposto uma lei: "devemos acompanhar somente a outro fariseu, não devemos caminhar com os incrédulos". Jesus, porém, vai além e da o exemplo a seus discípulos, ao serem solicitados por qualquer viajante a caminhar 1.609 metros (Uma milha), devem graciosamente estar prontos a andar em sua companhia por mais de três quilômetros (Duas milhas).

A instrução de Jesus é simples: Suporta qualquer injúria que possas sofrer por amor à paz, encomendando tuas preocupações ao cuidado do Senhor.


5. Devemos ser caridosos e beneficentes (v. 42): Nós não podemos ferir o nosso semelhante, mas devemos procurar fazer o bem a todos os que precisarem. Devemos estar dispostos a dá: "Dá a quem te pedir”. Em resumo, se você tem a capacidade, encare o pedido do pobre como uma oportunidade para cumprir o dever de dar esmolas. Quando alguém que realmente precisa de caridade se apresenta, devemos dar na primeira oportunidade se possível, mas ainda assim a questão da nossa caridade deve ser orientada com juízo (Cf. SI 112.5), para não darmos aos ociosos e indignos o que deveria ser dado aos que têm necessidade.

Um exemplo prático e ilustrativo, se um homem lhe pedir dinheiro alegando estar com fome, mas na verdade ele quer se embriagar, será que você fará uma boa ação alimentando o vício dele? Certamente não. O que você realmente queria era ajudá-lo a saciar a sua fome, mas isso veio a transformar-se em maldição. O que Jesus realmente está dizendo aqui é, devemos ter um espírito generoso, essa é a atitude do cristão.

Deus abençoe.
Graça e paz.

Referencias bibliográficas:
[1] Comentário Bíblico, Mattew Henry, CPAD, 2010.
[2] Ibid.

Bíblias Utilizadas:
Bíblia de Genebra
Bíblia King James Atualizada (KJA)
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INTRODUÇÃO

Por Flávio G. Souza


Estamos vendo diariamente um falso evangelho sendo pregado em nossas igrejas por pessoas que dizem crer em Cristo e depois abandonam a fé, revelando-se apostatas em resposta ao aumento da perseguição (Cf. Mt 24.9-10; Lc 8.13). Mas a pergunta que é debatida pelos estudiosos é, um cristão verdadeiramente salvo pode apostatar da fé e perder a salvação? Isso seria possível de uma perspectiva bíblica?

Para fecharmos um pensamento coerente sobre o assunto, é necessário saber se a Bíblia da base ou não para o tema. Entre os acadêmicos, temos teólogos que defendem a apostasia do salvo, mas outros negam essa possibilidade. Sim, é um tema polêmico, pois será necessário entrar na doutrina da salvação e outros pontos da teologia cristã.

SINTOMAS E CONSEQUÊNCIAS DE UMA APOSTASIA

Começando a entrar no tema, vemos que um dos motivos que levam as pessoas abandonarem a fé, se dá porque elas insistem em dar ouvidos as falsas doutrinas e as heresias que tem origem em espíritos enganadores. A Bíblia dá as seguintes características para pessoas que seguem e proferem ensinos estranhos:

O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios. Tais ensinamentos vêm de homens hipócritas e mentirosos, que têm a consciência cauterizada

1 Timóteo 4.1-2
AS HERESIAS E FALSAS DOUTRINAS

As heresias e falsas doutrinas possuem uma aparência inofensiva, mas a origem desses ensinos tem raízes em pessoas cheias de mal e de perversidade, com apenas um proposito, trazer confusão sobre os ensinamentos da Bíblia, escravizando os que se submetem a ele (Is 32.6). Os que proferem um ensino errôneo e contrário as Escrituras, deturpam as doutrinas essenciais da fé cristã, este comportamento conduz ao erro e produz uma ignorância nos ouvintes sobre o evangelho nas Sagradas Escrituras.

O FALSO ENSINO ESCRAVIZA

O falso ensino escraviza as pessoas e não conduz a Cristo. Nisso o Apostolo Paulo nos adverte, não devemos permitir que outras pessoas nos escravizem com falsas filosofias e sofismas que não passam de invenção de homens (Cf. Cl 2.8). Vale ressaltar um detalhe, muitos se utilizam deste texto para afirmar que não devemos estudar filosofia, mas não é isso que Paulo está dizendo.

O Apóstolo Paulo não abominava a filosofia, e sim a ‘vã filosofia’. Ela tem como principal característica, não produzir conhecimento e deturpar o conhecimento alcançado, consequentemente não conduzindo ninguém ao conhecimento de Deus, mas a exaltação de um falso evangelho que é centrado na pessoa do homem e não do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Cf. Cl 2.2; Mc 7.3,5,8). Paulo advertiu Timóteo contra essas práticas que vem sendo tão presentes na maioria das igrejas, e o exortou para que ele guardasse o conhecimento que havia recebido (1 Tm 6.20), da mesma maneira advertiu Arquipo (4.17). Considerando a etimologia da palavra, Paulo não poderia condenar a filosofia, uma vez que a filosofia é o ‘amor a sabedoria’, virtude que foi solicitada por Salomão (Cf. 2 Cr 1.11).

Se verdadeiramente somos salvos em Cristo não seremos levados por doutrinas estranhas (Hb 13.9). Como bem diz as Escrituras, “....de modo que nada há de novo debaixo do sol.” (Ec 1.9), vemos que as mesmas coisas que aconteceram aos primeiros cristãos, só mudaram de roupagem e têm uma aparência de piedade. Quantas igrejas hoje caíram no erro das novas revelações, precisamos viver pela Palavra e não ficar se orientando por profetadas. Se analisarmos essas ‘revelações’, veremos 'que um certo líder recebeu uma revelação' e a propagou, assim nasceram a maioria das seitas. O problema dessas revelações é que elas vêm pervertendo a fé genuína, e esse pseudo-evangelho deve ser combatido pelos cristãos, se não cometeremos dois terríveis pecados, omissão e comissão (Tg 4.17).

TENHA ZELO PELA PALAVRA

A Bíblia nos adverte para não agirmos relaxadamente no ensino da Palavra, pois é bastante comum encontrarmos pessoas que dizem, "isso não da em nada". Os que fazem do ensino qualquer coisa produzem cristãos mimados, que não conhecem nada de doutrina, ao invés de um cristão maduro e equilibrado. Tanto no ensino, como em qualquer outra área, devemos dar o nosso melhor, pois tudo é para a glória de Deus (1 Co 10.31).

E se de um extremo encontramos pessoas que agem relaxadamente, do outro temos os que canonizam correntes de pensamento. Não podemos ser assim, devemos ser equilibrados. Se um ponto de vista sobre a fé cristã não alterar a verdade das Sagradas Escrituras, é inútil criar confusão por causa de posicionamento diferente do nosso.

Um exemplo clássico é o estudo da escatologia, dentro dessa doutrina temos três correntes interpretativas, são elas, pré, meso e pós tribulacionista. Todas as correntes afirmam que Cristo voltará, mas a divergência existe quando ocorrerá este evento. Ser pré, meso ou pós tribulacionista não nos torna inimigos, apenas diferentes em um ponto de vista. Mas o fato de termos nossas diferenças, óbvio que apenas um estará correto. Temos essas divisões porque na Bíblia não existe uma revelação tão clara em relação ao tema, se houvesse certamente não encontraríamos tantas divergências doutrinarias. O que leva no máximo ao erro teológico e não a heresia, mas vale ressaltar que esses temas são pontos de vista secundários da fé, se a volta de Cristo ocorre antes, no meio ou depois, o importante é estarmos convictos de que estamos firmes em Deus.

OS FALSOS MESTRES NÃO SÃO ZELOSOS

A falta de zelo denuncia os falsos mestres, pois as verdades essenciais da Palavra de Deus (ex: Justificação pela fé) são levadas como se fossem assuntos secundários. Eles fazem isso conscientes de seus atos e levam outros a fazerem o mesmo por pura ganancia, mas o verdadeiro cristão está comprometido com a verdade e consciente que o seu galardão está no céu, ao invés de agradar a homens falhos e pecadores (Mt 5.19; At 15.24). Somente os sinceros reagem contra as heresias (1 Co 11.19).

O motivo de muitos apostatarem da fé, é por causa da falta de consistência no ensino da Palavra, elevando-se os dogmas da igreja local, por isso não podemos estar de nenhuma forma presos a eles. Devemos colocar tudo em confronto com a Palavra de Deus (Jo 7.24; Ef 5.11). Os que ignoram essa tarefa conscientemente, evidenciam que não estão comprometidos com a verdade da Bíblia, foi isso que Jesus disse para os Escribas e Fariseus, devido a sua falta de zelo com a Palavra (Mt 15.9).

CARACTERÍSTICAS DOS FALSOS MESTRES:


- O orgulho ambicioso revela a sua completa incompetência, pois desejam buscar novidades, mas a verdade nunca muda, apenas os métodos que são usados;
- As falsas doutrinas geram uma ideia de intelectualismo esnobe, geram mais discussões que ação (Falsas doutrinas sempre geram debates intermináveis e excluem a ação da fé); 
- Exaltação ao ego do que a prática da humildade;
- Os falsos mestres não estão dispostos a aprender, mas querem ensinar;
- Apegados a dogmas sem conhecimento do que praticam.

Os falsos mestres têm a mente cauterizada, por causa disso não estão dispostos a ouvir, mas quando tem a oportunidade de ensinar logo jogo muda. Por causa desse exibicionismo, colocam sobre outros um peso que nenhum ser humano suportaria, mas fazem isso conscientes. Mesmo sabendo que não suportariam se estivessem no lugar do seu ouvinte, eles veem e sabem muito bem o que estão fazendo. Preferem proferir mentiras conscientes, tornando-se pessoas insensíveis e egoístas (Cf. 1 Tm 4.2).


A FALTA DO FRUTO DO ESPÍRITO

Os falsos mestres não têm o fruto do Espírito e nunca foram salvos, pois são cheios de soberba, nada sabem e ficam criando contendas que tem origem em suas invejas, divisões, difamações e em suas suspeitas malignas (Cf. 1 Tm 6.3-4). O verdadeiro salvo não é aquele que faz milagres ou expulsa demônios, uma coisa é falar em nome de Jesus, outra coisa é pertencer a Ele. Jesus disse que muitos vão dizer naquele grande dia que profetizaram, expulsaram demônios e fizeram maravilhas, mas de nada adianta fazer tudo isso se nossas obras não evidenciarem o caráter de Cristo em nossa vida (Cf. Mt 7.21-23). Os que são salvos naturalmente possuem o fruto do Espírito, pois Ele nos escolheu para dar fruto, e esse fruto deve permanecer (Cf. Jo 15.15-16).

O cristão salvo em Jesus Cristo deve manifestar as características descritas pelo Apóstolo Paulo em Gálatas 5.22-23:

• Amor

• Alegria
• Paz
• Paciência
• Bondade
• Retidão
• Fidelidade, 
• Mansidão 
• Domínio próprio

Os falsos mestres, apesar de possuírem aparência, seus frutos não provam que eles foram regenerados, poder ir a uma igreja não é sinônimo de salvação. As obras da carne são manifestas pela:

• Imoralidade sexual 
• Impureza 
• Libertinagem
• Idolatria 
• Feitiçaria 
• Ódio 
• Discórdia, 
• Ciúmes 
• Ira 
• Egoísmo 
• Dissensões
• Facções 
• Inveja; 
• Embriaguez
• Orgias e coisas semelhantes.


Quem pratica as obras da carne não herdará o reino de Deus, para ser salvo é necessário nascer de novo (Cf. Jo 3.1-3). O apóstolo Paulo advertiu em 2 Timóteo 4.3, que há chegar o tempo que pessoas não darão ouvidos ao verdadeiro ensino da Palavra. Isso só acontece porque o ser humano não suporta a verdade que confronta o ego do homem, e denuncia seus desejos pecaminosos e imorais. Por eles não aguentarem o verdadeiro ensino da Palavra, preferem procurar pessoas que satisfaçam o seu próprio desejo, e que lhes fale apenas o que gostam de ouvir. Para elas é melhor ouvir aquilo que apenas lhe agrada, um retrato das nossas igrejas infelizmente.

Uns podem dizer que não estamos mais na época dos apóstolos, e que a verdade da Palavra de Deus mudou, mas só podemos mudar os métodos quantas vezes forem necessários. O método que era usado no ensino a vinte anos atrás por exemplo, não é mais o mesmo de hoje, mas a verdade continua a mesma, ela não muda independe cultura, época ou religião.

SALVAÇÃO, UM ATO EXCLUSIVO DA GRAÇA DE DEUS


Quando pregarmos o evangelho puro e simples, será natural confrontar a malignidade humana, pois é o Espírito Santo que convence o homem do pecado, da justiça e do juízo (Cf. Jo 16.8). Só existe um caminho para a vida eterna, esse caminho é Jesus Cristo, não podemos ser salvos pelas obras, a salvação é um ato exclusivo da Graça de Deus, do início ao fim (Cf. Ef 2.8-9). Não vem de nossas obras para que ninguém se glorie (Ef 2.9), para Deus nossos atos de justiça são como trapos imundos (Is 64.6). Se dependesse de nossas mãos só iriamos fazer o mal (Cf. Gn 6.5), o Apóstolo Paulo que sempre se reconheceu pecador (Rm 7.14-25), prioriza o ensino da salvação, que só pode ser dada por Deus e que não necessita da participação humana.

Todos os falsos mestres vão contra esse ensino, e vivem ensinando que somos merecedores, por isso precisamos nos “esforçar”. Aquele famoso jargão “o céu é tomado a força”, os que creem deste modo excluem a Graça de Deus. E esse discurso vem sendo aceito por grande parte público evangélico, porém só ganha ibope porque agrada aos seus ouvintes.

Em 2 Tm 4.4, vemos o motivo de muitos darem ouvidos a mitos. Se recusam a ouvir a verdade da Palavra, e não aceitam serem confrontados com as Sagradas Escrituras. Os falsos mestres vivem propagando ensinos errôneos, porque são pessoas gananciosas e usam de sua influência para propagar seus enganos que conduzem a perdição. Adoram usar os artifícios que Satanás usou para tentar Eva, e mascaram o seu erro para não serem desmascarados diante dos outros, seus ensinos são repletos de sedução e tentações ao engano (Cf. 2 Rs 21.9; Ez 13.10; Mc 13.22; At 20.30; 1 Tm 4.1; 2 Tm 3.13; 1 Jo 2.26). 

As tentações que os falsos mestres usam são repletas de:

• Armadilhas Mundanas
• Adoração a deuses falsos - Ex 23.33
• Alianças pecaminosas - 34.12
• Prata e ouro - Dt 7.25
• Associações más - Js 23.13
• Idolatria - Sl 106.36
• Votos Violados - Pv 20.25
• Amizade com pessoas violentas - 22.25
• Zombaria - 29.8
• Avareza - 1 Tm 6.9

Devemos combater os falsos mestres para que a igreja não seja contaminada e evitar que levem alguns a apostatarem da fé. Os falsos mestres são más companhias para os cristãos, pois as Escrituras nos advertem sobre os perigos que eles trazem:

• Prejudicaram a Ló - Gn 13.12-13
• Prejudicaram a Israel - Nm 11.4
• Foram armadilhas para Josafá - 2 Cr 18.1; 19.2
• Corrompem os bons costumes - 1 Co 15.33
• Devoraram a força de Efraim - Os 7.9


ARROGÂNCIA, UMA CARACTERÍSTICA DOS FALSOS MESTRES

Você quer reconhecer um falso mestre? Saiba que a arrogância é um ponto a se analisar. Eles são assim porque não são convertidos, que explica o fato de encontramos nas nossas igrejas pessoas convencidas da sua religião e não pessoas convertidas. Por causa da arrogância, eles se manifestam como pessoas insubordinadas, enganadoras, corruptas quanto à moral e gananciosas quanto a sua motivação. 

Assim eram os falsos mestres descritos pelo Apóstolo Paulo em Tito 1.10. Eles em primeiro lugar eram judaizantes, pois enquanto os presbíteros se colocavam debaixo da autoridade das Sagradas Escrituras, os falsos mestres não se sujeitavam a ela e faziam isso com palavras insolentes e vazias.

Outro ponto que vale destacar é a negação a obedecer a sã doutrina e a liderança constituída em uma igreja, além serem enganadores, têm uma vida toda errada, com um conjunto de doutrinas falsas. Enquanto a palavra deles não edifica a ninguém, ainda levam outros ao erro, ao invés de conduzir a verdade que converge na pessoa de Jesus Cristo.

Negam a justificação pela fé, contrariando o ensino da Palavra de Deus (Rm 5.1). Muitos ficam pregando que para ser salvo tem de pagar o preço, mas a salvação é pela Graça, não vem de nossos esforços, é dom de Deus (Cf. Ef 2.8). Tudo é pela Graça de Deus (2 Co 12.9).

A INFLUÊNCIA DOS FALSOS MESTRES (Tito 1.11)

Dentro desse texto vale a pena destacar três fatos:

ERAM PROSÉLITOS

Eram proselitistas no ensino, eles iam de casa em casa espalhando o seu engano na tentativa de conseguir novos convertidos. Traziam confusão ao invés de transformar vidas. Eles eram tão perdidos que não iam atrás dos pagãos e nem dos perdidos, mas queriam converter os que já professavam a fé cristã para tirá-los da sã doutrina. O que vemos hoje não é diferente, muitos grupos pseudos-cristãos e sectários tentam fazer o mesmo em nossos dias. Por isso devemos nos atentar e estarmos prontos para combatê-los.

• ERAM CORROMPIDOS EM SUA MORAL

A influência desses falsos mestres era tão grande que eles estavam corrompendo casas inteiras, por ocasião de seu péssimo exemplo sobre a vida familiar. E como os primeiros cristãos se reuniam em casas, eles não estavam pervertendo apenas famílias, mas destruindo as igrejas com suas doutrinas, produzindo perversão, escravidão e morte, diferente do evangelho que traz vida, santidade e liberdade.

ERAM GANANCIOSOS EM SUA MOTIVAÇÃO

Eles andavam de casa em casa propagando as suas heresias, interessados apenas no dinheiro, estavam usando a religião para encher os seus bolsos, e não tem sido diferente hoje. Temos muitas igrejas, onde moro por exemplo tem uma a cada esquina, mas poucas são as que pregam o verdadeiro evangelho. 

Os falsos mestres trabalham com metas, números e não com pessoas, transformando a igreja em uma empresa, por causa disso vemos muitas pessoas morrendo na fé. A ordem do Apóstolo Paulo diante disso, é silenciar essa gente. Este era um termo extremamente forte, cujo sentido refere-se a um tipo de mordaça usada para manter fechada a boca dos cães ferozes.


O CUMPRIMENTO DAS SAGRADAS ESCRITURAS

Os falsos mestres são o cumprimento das Sagradas Escrituras, pois eles sempre existiram no Antigo Testamento (Cf. Êx 32.8; 2 Rs 18.19; Is 9.13-17; Jr 5.31; 14.14; 23.30-32). No Novo Testamento, encontramos diversas advertências sobre os falsos mestres que estavam infiltrados na igreja pervertendo o evangelho de Cristo, isso é apenas um dos sinais do final dos tempos (Cf. Mt 24.4, 5,11; At 20.29,30; Gl 1.6-9; Fp 3.2; Cl 2.4-23; 2 Ts 2.1-3; 1 Tm 1.3-7; 4.1-3; 2 Tm 3.1-8; 1 Jo 2.18-23; 2 Jo 7-11; Jd 3,4).

Em 2 Pedro 2.1, vemos que os falsos mestres estavam infiltrados na igreja, e ensinavam doutrinas de caráter duvidoso, Jesus nos alertou sobre o surgimento deles (Cf. Mt 24.4,5), eles só vem ganhando espaço porque a maioria dos crentes estão aceitando todo tipo de doutrina. Os falsos mestres propagam doutrinas destruidoras que negam a fé, como por exemplo: maldições hereditárias, campanha dos revoltados, confissão positiva etc.

Quem propaga essas doutrinas não merece nem ser chamado de cristão. Vejo algumas pessoas insistirem em chamar de irmão gente que crê em doutrinas estranhas, mas pela Escritura não são. Todo aquele que foge da doutrina de Cristo, vai além do que está escrito na Palavra (2 Jo 2.9). Na verdade estão sob a influência do espírito do anticristo (1 Jo 2.18; 4.3).

A CRUELDADE DOS FALSOS MESTRES


Os falsos mestres apesar de possuírem boa aparência, são pessoas cruéis, porque eles introduzem na igreja heresias destruidoras de forma oculta e sigilosa. Com suas falsas filosofias e sofismas, enganam a muitos, e essas heresias infelizmente levarão muitos a condenação eterna (2 Pe 2.1). Assim podemos classificar alguns movimentos 'evangélicos' que se intitulam “cristãos”, como seitas.

A palavra heresia no grego (αιρεσις) hairesis, que significa uma escolha. Assim, “uma heresia é, estritamente, a escolha de uma opinião contrária àquela geralmente acolhida; por essa razão, transferida ao corpo daqueles que professam suas opiniões e, portanto, formam uma seita”.

O propósito desses movimentos sectários é propagar doutrinas que vão de confronto com a Palavra de Deus, criando divisões e causando grandes estragos na obra de Cristo, eles negam a Deus (Jd 4), e acabam cometendo o famoso pecado para a morte descritos em 1 João 5.16.


PECADOS PARA MORTE E A BLASFÊMIA CONTRA O ESPÍRITO SANTO

O pecado para a morte descrito por João, faz referência a blasfêmia contra o Espírito Santo, que vai além de atribuir as obras de Deus a Satanás. Seu conceito envolve uma obra intencional e provocadora ao nome e a obra de Deus, através de palavras e atos (Cf. 2 Rs 19.3,6,22; 18.22).

Os pecados para a morte descritos por João, os comentaristas diferem muito na forma de pensar sobre o pecado que conduz a morte, e se essa morte era física ou espiritual. Alguns cristãos morreram porque tomaram a Santa Ceia indignamente (1 Co 11.27-30), e Ananias e Safira morreram quando mentiram para Deus (At 5.1-11). A blasfêmia contra o Espírito Santo na Bíblia, está intimamente ligada ao pecado para a morte, pois o seu resultado é em morte espiritual (Mc 3.29).

No Novo Testamento, este pecado também está relacionado com homens e uma injuria a sua reputação. Algumas pessoas hoje pensam que esse pecado não pode ser cometido, mas se enganam. O ato de resistir a ação do Espírito para se manter na incredulidade é uma forma de praticar esse pecado (cf. Jo 3.18; At 7.51; Hb 6.4). O ato de atribuir a obra do Espírito a Satanás, é apenas um reflexo da rejeição a Cristo, por isso as pessoas que cometem esse pecado já não podem mais ser renovadas para arrependimento (Hb 6.4).

HEBREUS 6.4 E SUAS CONSIDERAÇÕES

Sobre o texto de Hebreus 6.4, os teólogos divergem, e é o principal texto usado para fundamentar a perda da salvação. Se ele for tomado desse modo, entraremos em contradição, pois Pedro negou a Cristo, mas ainda assim voltou. O autor aos hebreus, fala a um grupo de judeus incrédulos que estavam voltando ao judaísmo, não é à toa que no v. 9, vemos uma clara distinção de cristãos verdadeiros para cristãos nominais. 

O simples ato deles se manterem na incredulidade, já manifesta o pecado de blasfemar contra o Espírito Santo, que é o ato de resistir ao Espírito (At 7.51). Resistir ao Espírito é negar a obra de Deus, por isso é um pecado que pessoas cometem conscientes. Por isso que o escritor aos hebreus diz que as pessoas que cometem esse pecado, não é mais possível serem renovadas para o arrependimento (Hb 6.4-6).


ANÁLISE DE 2 PEDRO 2.1

Para não restar dúvidas, precisamos avaliar um ponto importante em 2 Pedro 2. Os falsos mestres são promotores de falsas doutrinas e por isso são tão perigosos. Nesse texto, o Apóstolo Pedro denuncia o método que os falsos mestres usam para propagar o seu ensino, não é à toa que são chamadas de heresias destruidoras. Eles não anunciam com a aparência real, mas maquiam o seu erro para serem aceitos na igreja. As heresias dos falsos mestres tinham como características a negação do Senhor Jesus Cristo, por isso Pedro afirma que trazem sobre si a sua própria destruição. As características principais dos falsos ensinos são descritas pela:

Negação da inspiração da Bíblia
Exaltação do homem 
Negam a morte vicária de Cristo
Negam a justificação pela fé
E outros a realidade de um julgamento

Segundo ponto que vale destacar "...chegando a negar o Soberano que os resgatou.." 

Muitos confundem os falsos mestres com cristãos verdadeiros ao pegar esse texto isolado. Eles negaram o Senhor que os resgatou no sentido de rejeitarem o sacrifício de Cristo, o que na expiação ilimitada é conhecido como redenção obtida, diferente da redenção aplicada. Isso não significa que eles foram salvos e "perderam a salvação". Digo isso por dois motivos, eram falsos mestres e introduziam heresias destruidoras, e como sabemos isso não é atitude de um cristão verdadeiro.

UM CRISTÃO PODE PERDER A SALVAÇÃO?

Esse assunto divide opiniões, principalmente entre os teólogos que fazem debates intermináveis sobre o tema. Não quero entrar muito no mérito da questão, mas vou colocar apenas meu posicionamento, pense e análise por você mesmo, baseado na Palavra se isso pode ocorrer com um cristão.

Eu não creio que um salvo pode perder a salvação, pois quando somos salvos por Jesus, nossa vida é transformada. Ele nos escolheu para frutificarmos (Jo 15.16), se não haver fruto, não houve conversão. Já os apóstatas apenas evidenciam que nunca foram convertidos (Cf. 1 Jo 2.19; 2 Jo 1.9), pois quando há conversão não somos nós, mas o Senhor quem completa a obra que ele começou (Fp 1.6).

O SALVO

Persevera na doutrina (2 Jo 1.9).
Os cristão verdadeiro não apostata, pois Cristo completará a obra que ele iniciou (Fp 1.6).
Está selado com o Espírito Santo para o dia da redenção (Ef 4.30).
O cristão verdadeiro nunca apostata (Sl 44.18-19).

CARACTERÍSTICAS DOS APOSTATAS


Nunca pertenceram a Cristo (1 Jo 2.19)
Não perseveram na doutrina (2 Jo 1.9)
Nunca conheceram a Cristo (Mt 7.21-23)
Cristo fará separação no último dia (Mt 25.33).


APOSTASIA DIFERE DE IGNORÂNCIA

Muitos confundem apostasia com falta de conhecimento. Mas a apostasia, é caracterizada por uma rejeição deliberada a Divindade de Cristo (Cf. 1 Jo 2.22-23; Jd 4), e a sua morte expiatória (Fp 3.18; 2 Pe 2.1; Hb 10.29), diferente de ignorância sobre um tema.
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