Por Flávio G. Souza
Hoje comemoramos a Páscoa, uma data
importante para os cristãos. Mas por grande parte da mídia, há uma insistência em dar um destaque
a um coelho para que não tenhamos consciência do que realmente esse dia
representa. É de grande importância nesta data, termos consciência do
significado da páscoa, pois ela representa a nossa libertação. Só comemoramos a páscoa porque Cristo morreu em nosso lugar,
sendo ele o nosso propiciatório, aplacou a ira de Deus que era contra nós e nos
libertou do pecado, sendo assim possível nos dar a vida eterna.
1. A origem da Páscoa
A Páscoa foi instituída a partir da
libertação dos Israelitas da escravidão no Egito (Cf. Êx 12.1-20; Mc 14.12). E
diferente do que muitos teólogos progressistas promovem, a Páscoa não celebra
de forma alguma uma independência política, mas nos ensina que formos livres
da morte eterna através de Cristo. O grande problema dos progressistas hoje está
justamente nisso, porque tudo é motivo para fazer política, a fim de
conseguirem posições de “destaque” com o propósito de humilhar os que pensam
diferente, a famosa ditadura do politicamente correto.
2. Cristo foi vítima de crime de ódio?
Já vi diversas vezes pessoas dizendo que
Cristo foi vítima de crime de ódio por parte dos religiosos e coisas do tipo,
mas será que essa argumentação “bonitinha” tem alguma base nas
Sagradas Escrituras? Nos evangelhos sinóticos Mateus, Marcos e Lucas relatam a
estratégia que foi usada para capturar Jesus, mas somente João traz um detalhe
essencial para entendermos o texto (Comparar: Mt 26.47; Mc 14.43-50; Lc
22.47-53 com Jo 18.4-9).
É bom analisarmos as passagens presentes
nos quatro evangelhos que relatam a forma que Cristo foi preso, pois cada
escritor relata diferente, isso não é de forma alguma uma
contradição, até porque um complementa o relato do outro. Contradição seria se
uma passagem negasse o que o outro relata, coisa que não vemos ocorrendo nos
versículos que descrevem o fato.
Jesus Cristo sendo o filho de Deus quis se entregar, veja o texto de João 18. Ele foi ao encontro dos soldados, se apresenta como o próprio Deus e permite que seja capturado. Se Jesus quisesse, o Pai enviaria anjos para o socorrer, ele estava consciente de que era necessário morrer (Cf. Jo 18.8; Mt 26.53).
Mateus 26.53
Um relato interessante e que gostaria de
destacar está em Mateus 26.53, que não aparece nos outros evangelhos é que o
próprio Cristo diz que se ele orasse ao Pai, Deus colocaria mais de doze
legiões de anjos para sua proteção. Doze legiões de anjos é o equivalente a
72.000 anjos (considerando que, naquela época, uma legião era formada por até
6.000 mil soldados). Lembremos que apenas um anjo foi suficiente para ferir
todo o Egito (Cf. Êx 12.23-27) e libertar o povo de Israel do cativeiro. Neste
momento Jesus estava consciente de que a vontade do Pai precisava ser cumprida,
em todos os detalhes (Zc 13.7). Ele em nenhum momento era uma vítima indefesa,
antes permitiu que o prendessem.
Marcos 14.48-49
Vale ressaltar que a interpretação dada
por algumas pessoas sobre um Cristo político ou que era contra a defesa pessoal
não é válida, pois isso tudo ocorreu para que se cumprisse as Escrituras (Cf.
Is 53.7-9; At 2.23). Veja que em Marcos 14.49, Jesus questiona o porquê não o prenderam
no templo, pois ele ensinara lá diariamente. Mas os chefes dos sacerdotes,
mestres da lei e líderes religiosos não fizeram isso porque não seria
vantajoso. Por ocasião da perspectiva política e talvez suscitasse uma revolta
popular por causa da festa da páscoa e dos pães sem fermento, onde o templo
costumava ter um fluxo maior de pessoas.
Lucas 22.49-51
Muitas pessoas associavam os líderes
considerados figuras messiânicas com as revoltas populares e a derrubada dos
reinos gentios que oprimiam Israel; um Messias que curava aqueles que o
atacavam não correspondiam a nenhuma expectativa messiânica da época.[1] Só que
diferente do que eles pensavam, nosso Jesus não era um revolucionário político
que iria promover uma rebelião contra Roma.
O termo revolucionário (NVT), ou salteador
(ACF), normalmente significa "ladrão", os romanos usavam para se
referir a revolucionários violentos que se opunham à autoridade romana, como
era o caso de Barrabas (Cf. Lc 23.18-19). Para judeus patriotas, esses indivíduos
eram combatentes da liberdade, para os romanos, simples bandidos.[2]
João 18.4-9
Jesus nunca foi pego de surpresa, pois
como escrevera anteriormente, se ele desejasse o Pai lhe enviaria mais de doze
legiões de anjos para o defender. Note no que João escreve a respeito, Jesus
estava pronto para ser preso e interrogado, foi uma decisão consciente, pois
ele sabia que veio para dar a sua vida em resgate de muitos (Mt 16.21-23).
Vejamos o texto abaixo, destacando partes essenciais para que possamos entender
com clareza:
“Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que
sobre ele haviam de vir, adiantou-se e perguntou-lhes: A quem buscais?
Responderam-lhe: A Jesus, o Nazareno. Então, Jesus lhes disse: Sou eu. Ora,
Judas, o traidor, estava também com eles. Quando, pois, Jesus lhes
disse: Sou eu, recuaram e caíram por terra.”
João 18.4-6
Veja que ele decidiu se entregar, se Jesus
não quisesse eles não teriam encostado em nosso mestre, que após se
identificar para eles (Pois estava escuro), todos caíram atordoados, e apesar
de terem caído ao chão pelo próprio Deus, não entenderam o que tinha ocorrido.
Interessante que Jesus se apresentou como seu nome divino egô eimi (λεγω ειμι),
o mesmo nome do Pai (Cf. Êx 3.13-14; 4.26; 8.24,58), e no final ele disse que
nenhuma de suas ovelhas tinha se perdido, Cristo continuou e continua sendo o
bom pastor, pois ofereceu a sua vida pelas suas ovelhas e protegendo-as dos
lobos (Cf. Jo 10.11-15).
Já no caso de Judas, este nunca foi um
verdadeiro discípulo de Jesus (Jo 17.12), pois ele nunca experimentou o novo
nascimento. É possível uma pessoa ficar a sua vida inteira na igreja, chegar ao
cargo de pastor, participar de todas as atividades, mas de nada
adianta se não nascer de novo. É impossível uma pessoa que experimentou o novo
nascimento ficar na prática do pecado, vou citar dois exemplos que deixam claro
este fato, Judas era ladrão (Jo 12.5-6), e ele ficou possesso (Lc 22.3), coisa
que é impossível a um cristão.
Um cristão pode ficar possesso pelo
demônio?
Esse tema é bastante discutido entre os
cristãos, mas será possível um cristão ficar possesso? Ora, se em nós habita o Espírito
Santo e estamos selados para o dia da redenção (Ef 4.30), seria uma
contradição afirmar isso. Pois, como pode o demônio habitar onde o Espírito
Santo de Deus habita? A Palavra de Deus nos garante que não, o Filho de
Deus veio para destruir as obras do diabo (1 Jo 3.8), e João escreve ainda: “Sabemos
que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado; antes, aquele que
nasceu de Deus [Deus] o guarda, e o maligno não lhe toca” (1 Jo 5.18). Se o
maligno não pode nos tocar, como pode um cristão ficar possesso?
Conclusão
No início do Evangelho de João, João
Batista apresentou Jesus com o título "Cordeiro de Deus" (Jo 1.29,
36). Essa expressão estranha talvez se referisse ao cordeiro sacrificado
diariamente no templo (Êx 29.38-46) ou ao cordeiro sacrificial de Isaías 53.7
(cp. At 8.32-35; Ap 5.5-14). Os dois rituais indicavam resgate e perdão dos pecados.[3]
Só podemos ser perdoados porque O Filho de
Deus foi nosso substituto, ele levou sobre si nossos pecados, instituiu a Nova
Aliança por meio de sua morte sacrificial, por isso temos o perdão de Deus
apesar de nossos erros e defeitos (Jr 31.31-34; 32.40; Lc 22.20; Hb 7.22;
8.8-10; 9.15; 10.12-18; 12.24; 13.20). Somente o sangue de um sacrifício
confirma uma Nova Aliança (Êx 24.8; Zc 9.11; Hb 9.12; 13.20; Rm 3.25; 5.9).
Na Nova Aliança não existe mais a necessidade de sacrifício de animais, porque Jesus se sacrificou em definitivo
por nós, éramos para estar lá naquela cruz. E isso nos remete a verdadeira
páscoa, Cristo morreu no nosso lugar, afim de que tenhamos paz com Deus por
meio de seu sangue derramado naquela cruz. Tudo se cumpriu em Jesus, diz as Escrituras que suas pernas não seriam quebradas (Jo 19.33), e
cumpriu-se uma das regras da páscoa (19.36; Êx 12.46). O sangue fluiu de sua
ferida (Jo 19.34), mostrando que sua vida havia sido entregue no lugar dos
outros. Assim como o cordeiro havia morrido para salvar a vida das famílias
israelitas na Páscoa, também a morte do Filho de Deus na cruz trouxe a salvação
ao mundo.
Feliz Páscoa!
Referências Bibliográficas:
[1] Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento/
Craig S. Kenner; Tradução de José Gabriel Said, Thomas Neufeld de Lima
(acréscimos da segunda edição em inglês). - São Paulo: Vida Nova, 2017. Pág.
281.
[2] Bíblia de Estudo NVT, Mundo Cristão.
[3] Ibid.
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