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» » » » Depravação Total e pecado original
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Por Flávio G. Souza

A Palavra de Deus deve sempre ser nossa fonte de autoridade, para que possamos avaliar se uma doutrina é verdadeira (Jo 7.24; Ef 5.11), pois somente a Bíblia é inerrante, infalível e inspirada por Deus.

Quando pensei em escrever este artigo, ao pesquisar as passagens bíblicas que tratam deste tema tão importante, vi que não seria uma tarefa fácil. Mas após eu ter visto certos comentários dos que desconhecem a doutrina da depravação total e do pecado original, vi que existe um desconhecimento do assunto, e isso está levando muitas pessoas a acreditarem em doutrinas que não condizem com a Palavra de Deus. Por isso senti que era hora de transcrever o assunto para ajudar a esclarecer este tema tão interessante e complexo. O primeiro ponto que precisamos entender é a depravação total, para que depois venhamos entender o que significa pecado original e como ele foi transmitido a toda raça humana.

Depravação total

A Palavra de Deus diz que o homem foi criado integro, santo e perfeito (Cf. Gn 1.31; Ec 7.29), e também afirma que somos imagem e semelhança de Deus (Gn 1.31). Após Adão ter desobedecido, ele tornou-se escravo do pecado, como consequência a natureza humana foi afetada. A totalidade desta depravação afetou o homem em todos os aspectos, como bem define o teólogo calvinista John Piper:

"Nossa corrupção pecaminosa é tão profunda e tão forte que nos torna escravos do pecado e moralmente incapazes de vencermos nossa rebelião e cegueira. Esta incapacidade de salvarmos a nós mesmos é total. Somos completamente dependentes da Graça de Deus para vencer nossa rebelião, para dar-nos olhos para ver e atrair-nos eficazmente ao Salvador."[1]

Neste ponto calvinistas e arminianos não tem discordância, o pastor e teólogo arminiano Silas Daniel, também corrobora com essa posição:

"O que significa portanto "depravação total"? Significa que, mesmo o ser humano podendo fazer coisas boas, o pecado infelizmente prevalece em seu coração - e mais: contamina todo o seu ser. Esse é o sentido do termo "total" quando falamos de "depravação total do ser humano" a luz da Bíblia. Essa depravação não é total no sentido de intensidade, mas de abrangência. Ela é total porque o pecado, além de prevalecer interiormente, contamina, repito, todas as áreas da vida da pessoa. 

Em síntese, depravação total quer dizer que todos os seres humanos, em todo o seu ser foram contaminados pelo pecado. Significa que o ser humano, após a queda, passou a ter uma inclinação natural e prevalecente para o pecado que impede-o de fazer a vontade divina e de vir a Deus."[2]

A Bíblia confirma a autenticidade desta doutrina, pois todos pecaram, não existe ninguém isento de culpa, tudo consequência do erro de um homem (Cf. Gn 6.5; 8.21; Rm 3.12, 27, 28; 5.12; 7.17). 

Pecado Original 

Se Adão errou, como pode toda a humanidade sofrer a consequência? Isso daria fundamento para maldições hereditárias? Como o pecado adâmico ou pecado original foi transmitido a todos os seres humanos? Para entender este questionamento, é necessário ver o que o Apóstolo Paulo disse em Romanos 5.12, o texto chave para entendermos o pecado original:

Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram.

Romanos 5.12

Como diz o texto, a morte passou para toda a humanidade pela desobediência de Adão e por isso todos pecaram, a questão mais difícil de se entender é, como o pecado de um homem afetou toda humanidade? Por causa desses questionamentos, surgiu duas correntes teológicas condenadas em concílios por heresia, o que conhecemos por pelagianismo e semi-pelagianismo.

Pelagianismo:

Pelagianismo vem de seu expoente, Pelágio, um austero monge e popular professor que nasceu provavelmente na Britânia e que viveu em Roma por volta do ano 405. Sua austeridade era puramente moralista, ao ponto de não conseguir conceber a ideia de que o homem não podia deixar de pecar. Seus interesses estavam mais voltados para a conduta cristã e sendo assim, ele queria melhorar as condições morais de sua comunidade. Sua ênfase particular recaía na pureza pessoal e na abstinência da corrupção e da frivolidade do mundo, resvalando o ascetismo.

Assim como Adão, todo homem, segundo o pensamento pelagiano, é criador de seu próprio caráter e determinador de seu próprio destino. No entendimento pelagiano, o homem não possui uma tendência intrínseca para o mal e tampouco herda essa propensão de Adão, podendo, caso queira, observar os mandamentos divinos sem pecar. Ele achava injusto da parte de Deus que a humanidade herdasse a culpa de outrem e desta forma negava a doutrina do pecado original. Desta forma, Pelágio passou a ensinar uma doutrina exageradamente antropocêntrica e focada no livre-arbítrio, ensinando que, ao criar o homem, Deus não o sujeitou como fizera com as outras criaturas, mas “deu-lhe o privilégio singular de ser capaz de cumprir a vontade divina por sua própria escolha”.[3] O pelagianismo foi condenado no concílio de Éfeso em 431 d.C por ser um ensino herético.

Semi-pelagianismo: 

Esta antiga heresia é oriunda dos ensinos dos massilianos, liderados principalmente por João Cassiano (433 d.C), o qual tentou construir um elo entre o Pelagianismo, que negava o pecado original, e Agostinho, que defendia a eleição incondicional sobre o fundamento de que todos os homens nascem espiritualmente mortos e culpados do pecado de Adão. Cassiano acreditava que as pessoas são capazes de se voltarem para Deus mesmo à parte de qualquer infusão da graça sobrenatural. Isto foi condenado pelo Segundo Concilio de Orange no ano de 529.[4]


A Bíblia é clara em dizer que após o pecado, toda humanidade morreu em Adão, mas Deus por intermédio de sua Graça, entregou seu Filho Unigênito para todos os que creem não fossem condenados, mas recebam o dom gratuito de Deus pela fé (Cf. Rm 3.23; 5.12; 6.23; Jo 3.16; Ef 2.1,8,9; Cl 2.13).


Como o pecado afetou toda humanidade?

Adão no Éden era o representante de toda humanidade, por isso quando ele pecou, a morte entrou no mundo. Adão, o primeiro homem, foi o cabeça divinamente nomeado da humanidade inteira, e o pecado dele fez todos aqueles a quem ele representava perderem a retidão ("todos os homens", vs. 12.18; "muitos", vs. 15. 19). Por semelhante modo, Deus tez de Cristo o cabeça representante de uma nova humanidade, a fim de que, mediante a sua obediência diante da morte. pudesse obter a justificação deles. Inerente a esse ensino é a ideia de que a restauração provida na salvação deve seguir o padrão e reverter o conteúdo da constituição original da humanidade diante de Deus (1 Co 15.45-49; Hb 2.14-18).[5]

O pecado foi passado a toda humanidade, porque Adão pecou como o nosso representante legal, Cristo veio como o segundo Adão, pois ele representa o recomeço para todos os que creem. Muitas pessoas confundem a transmissão do pecado com o falso ensino da maldição hereditária. Diferente da consequência do pecado, o ensino da maldição hereditária diz que Deus nos castiga por causa do pecado dos nossos pais, utilizando-se do texto de Deuteronômio 5.9; 30.19; Êxodo 20.4-6; Levítico 26.39, mas não é bem isso que as passagens afirmam. Se você tem dúvidas acerca deste texto, leia os artigos onde trato diretamente do tema:

Deuteronômio 30.19 da base para 'maldição hereditária'?
Maldição hereditária é um ensino genuinamente bíblico?

Com base neste falso ensino, criaram ensinamentos estranhos sobre espíritos familiares, para tentar justificar por exemplo um caso de adultério, mas em lugar nenhum da Bíblia relata a existência de demônios territoriais ou espíritos familiares que atuam em áreas especificas na vida de uma pessoa. Como sempre digo, é um equivoco afirmar que sofremos "maldições" pelo pecado de nossos antepassados, pois a Palavra de Deus afirma que cada um é responsável por seus próprios erros (Cf. Dt 24.16; Ez 18.20-21; Rm 14.12).

Toda diferença está no conceito bíblico de pecado original, não tem nada relacionado com maldições hereditárias, mas que todos tem em sua natureza, a herança do pecado adâmico, como bem definiu Norman Geisler

"O pecado de Adão afetou não somente a si mesmo, como também toda a sua descendência — todos nós pecamos “por um homem” (Rm 5.12). E todos os descendentes de Adão estavam presentes nele, potencial e seminalmente, e/ou legalmente (juridicamente), já que, como o cabeça da raça humana, ele era o nosso representante legal (Rm 5.18-21)."[6]

Adão como nosso representante legal ao errar, não trouxe consequências apenas para ele, mas pra toda humanidade, por isso recebemos a consequência de sua escolha ao desobedecer a Deus. Na teologia isso é chamado de Efeito jurídico do pecado de Adão. Mas Deus em sua infinita misericórdia enviou o "último Adão” (1 Co 15.45), revogou o ato do primeiro Adão, tornando todos os seres humanos legais e potencialmente salváveis.[7]

Ela nos foi transmitida por Adão, nosso primeiro representante diante de Deus. A doutrina de pecado original nos diz que nós não somos pecadores porque pecamos, mas pecamos porque somos pecadores, nascidos com uma natureza escravizada ao pecado.[8]

A Imagem e semelhança de Deus presente no homem foi perdida após a queda?

A imagem e semelhança de Deus, conforme o homem foi criado (Gn 1.26-27), se trata de um paralelismo. Essa imagem e semelhança não foi perdida na queda, e sim danificada, manchada, obscurecida, mas não erradicada. 

Ela continua no homem, pois Adão não se tornou depravado ao ponto de não ouvir mais a voz de Deus por exemplo (Cf. Gn 3.9-10). Não é à toa que roubar, matar, adulterar, falar palavras torpes, mentir, seja a pessoa seguidora de Jesus ou não, praticar essas coisas é pecado porque somos imagem e semelhança de Deus (Gn 9.6; Pv 6.16-19). 

Como Cristo não herdou uma natureza pecaminosa e viveu uma vida sem pecado?

Essa é uma questão bem polêmica quando debatida entre os teólogos, para os adventistas por exemplo Cristo participou de nossa natureza caídaMas essa afirmação não é coerente com a Palavra de Deus, pois ele foi tentado em tudo, mas sem cometer nenhum pecado (Cf. Hb 4.15). Essa concepção também não é verdadeira, porque todos nós nascemos depravados e somos pecadores desde nossa formação (Cf. Sl 51), seria uma contradição da Bíblia falar que Jesus foi tentado em todas as áreas sem pecado, com uma natureza caída.

O fato de Cristo ter nascido de uma virgem é uma das causas que isenta ele de ter adquirido o pecado original, mas esse não é o ponto central da questão. Em Lucas 1.28-35 temos um relato mais completo do assunto que nos outros evangelhos sinóticos. O anjo ao falar com Maria, explicou como funcionaria essa gestação, ela ficou espantada ao receber a noticia (Lc 1.34), pois ainda estava noiva de José. O texto relata que o Espirito Santo desceria sobre Maria, e o poder do Altíssimo a envolveria e um ser Santo seria gerado no seu ventre.

Como Cristo nasceu sem pecado? 

A razão principal de Cristo não ter pecado, foi o Espirito Santo ter descido sobre Maria, tornando possível a encarnação de Cristo sem pecado. Assim foi possível o segundo Adão ter uma natureza humana, sem herdar o pecado (Cf. Is 53.9; At 3.14; 2 Co 5.21; Hb 4.15; 7.26; 1 Jo 3.5), pelo ato criador do Espirito Santo. A mesma coisa ocorreu de forma semelhante como vemos em Gênesis 1, quando Deus cria todas as coisas, eis a razão de Cristo ter nascido sem o pecado original.

Só foi possível Cristo nos livrar do poder do pecado, porque ele tinha uma natureza Santa e imaculada, se o Filho de Deus fosse participante de nossa natureza caída, seria impossível nos resgatar do poder do pecado (Hb 9.14). Assim ele pode nos conceder liberdade, justificação pelo seu precioso sangue, usando-nos como sal e luz neste mundo, e como instrumentos de justiça em uma sociedade corrompida.

Graça e paz
Deus abençoe.

Referencias Bibliográficas:
[1] Cinco pontos, John Piper, Editora Fiel. 
[2] Arminianismo, Silas Daniel. Pág. 352 CPAD, 2017
[3] Introdução à Teologia Armínio-Wesleyana, Couto, Vinicius. Pág. 62-63, Editora Reflexão, 2014.
[4] Ibid. Pág. 24.
[5] Bíblia de Genebra, Pág. 1325
[6] Teologia Sistemática, Pecado, Salvação, A Igreja, As últimas coisas, Norman Geisler, 1ª Edição 2010, CPAD, Pág. 105.
[7] Ibid.
[8] Bíblia de Genebra, Pág. 650.

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